sábado, 9 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes (2009)



Nome: Sherlock Holmes (Sherlock Holmes).
Diretor: Guy Ritchie.
Gênero: Ação/Aventura/Mistério/Policial.
Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong e outros.
Nota: 4 estrelas.
Página no IMDb

"Elementar, meu caro Watson" será um frase que não será ouvida neste filme: aliás, este filme se propõe a atualizar os personagens mais famosos de Sir Arthur Conan Doyle, dando uma atmosfera mais "moderna" à série de livros e ao detetive particular mais conhecido do mundo inteiro sem que eles saiam da Inglaterra vitoriana dos livros originais - além de não seguir nenhum dos contos de forma principal.

A história começa com ação: Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) corre, planeja friamente como lutar e derrubar seus oponentes e, com a ajuda do Doutor John Watson (Jude Law), coloca fim a um ritual de sacrifício humano que estava sendo conduzido por Lorde Blackwood (Mark Strong), resultando na prisão deste e no salvamento da moça.

Blackwood é condenado à forca pelo crime e tem sua execução marcada para depois de três meses, tempo em que Holmes fica ocioso e completamente entediado. Enquanto isso, Watson decide que vai se mudar da casa do detetive depois de acertar o casamento com a jovem Mary Morstan (Kelly Reilly), idéia que perturba Holmes - já que o que não faltam são tentativas do detetive de impedir o amigo de levar o casamento adiante, procurando sabotá-lo de todo modo.

Pouco antes da execução de Blackwood, o próprio Sherlock Holmes é chamado até a prisão, já que a sua presença ali era o último desejo do condenado. Os dois homens conversam e Blackwood avisa que mais três mortes ocorrerão dali em diante e que a sua execução mudará os rumos do mundo. Apesar de tudo, o nobre é enforcado e sua morte é confirmada pelo próprio Watson.

Surge em cena Irene Adler (Rachel McAdams), uma golpista que foi a única que conseguiu enganar o detetive no passado - e ainda por cima, por duas vezes. Ela oferece dinheiro para que ele aceite um caso relativo ao desaparecimento de uma pessoa, mas não revela nada que dê pistas sobre para quem ela estaria trabalhando - o que força Holmes a se disfarçar para tentar obter maiores pistas. Logo depois, a notícia de que Blackwood voltou dos mortos chega até Holmes, e sua ajuda é requisita para tentar impedir que o pânico se alastre pelas ruas com tal acontecimento.

No lugar de Blackwood está o homem que Irene havia pedido para ser encontrado - e, com base em um relógio enterrado junto com o homem, Holmes e Watson chegam ao endereço dele, descobrindo um laboratório estranho porém falhando em descobrir no quê o homem trabalhava ali dentro. Os dois, porém, são surpreendidos com a chegada de capangas enviados ali para detruir qualquer tipo de evidência (já que os dois amigos já haviam descoberto uma ligação entre o morto e Blackwood), mas acabam na cadeia por toda a confusão criada logo depois.

Enquanto Watson tem a sua fiança paga pela noiva, Holmes sai devido a um pagamento feito pelo Templo das Quatro Ordens, uma sociedade secreta que lida com magia e da qual Blackwood era um membro - e um muito poderoso, nascido durante um ritual. Sem poderes para impedi-lo de seguir esse caminho, o chefe da sociedade pede ajuda a Holmes - que aceita prender o homem, mas não porque eles haviam solicitado. Pouco tempo depois, no entanto, dois membros antigos da ordem são assassinados e Blackwood passa a liderá-la, com planos de dominar a Inglaterra e retomar o domínio dos Estados Unidos como colônia. Para piorar as coisas para Holmes, Blackwood pede ao Ministro do Interior, um membro da seita, para manipular a polícia e expedir um mandado de prisão para o detetive.

Os dois amigos começam a seguir pistas deixadas para trás que levam a crer que Blackwood estaria em um matadouro - e os dois estavam certos, chegando a tempo de salvarem Irene de uma armadilha fatal, já que Blackwood parece estar eliminando todos os vestígios de seus planos. A fuga de Watson, Holmes e Irene é frustrada por uma bomba, acionada por outra armadilha e que acaba deixando Watson, entre todos, severamente machucado.

Desse momento em diante, a maior parte do que acontece é essencial para que se desvende o mistério que se segue, sendo impossível contar mais sem estragar o resto do filme. É verdade que a ação, as lutas, as situações humorísticas e vários outros elementos estão presentes, mas Sherlock Holmes é Sherlock Holmes e não se pode esperar nada mais nada menos do que um espetacular desfecho com base em todos os detalhes que a maioria das pessoas não viu enquanto assistia ao filme.

Acho a versão atual do detetive mais famoso do mundo competente: foi exatamente o que eu esperava, sem entregar nada que possa ser classificado como uma "obra-prima", mas sem deixar a desejar também; aparentemente, a melhor coisa que Guy Ritchie fez nos últimos anos foi se divorciar de Madonna, já que seus dois últimos filmes (este e "RocknRolla", de 2008) indicam uma retomada visível da sua carreira, com lançamentos consistentes e que têm devolvido a sua credibilidade como diretor.

Agora, as atuações: embora Robert Downey Jr. não tenha sido a primeira escolha para o papel por ser um pouco "velho demais" (aparentemente, a idéia era retratar Sherlock Holmes mais moço, mais ou menos como no reinício da franquia de "Batman", com Christian Bale no papel principal), fica difícil imaginar este filme de outra maneira: Downey Jr. esteve impecável com seu sotaque inglês (ele é americano), os maneirismos de Holmes, seu ritmo de cena e a sua caracterização como um todo. Jude Law não fica por menos: seu Doutor Watson é alguém no mesmo nível de Holmes, independente e que sabe decifrar quando está sendo manipulado pelo amigo.

Uma grande diferença dos livros para este filme está no relacionamento entre ambos, aliás: mais do que mestre e criado, mente brilhante e ajudante, eles estão em pé de igualdade, mostrando que, sem o outro, nenhum deles chegaria longe. As discussões e tiradas de ambos constituem os melhores momentos do filme e não raro eles se parecem com um casal velho briguento, mas daqueles tão entrosados que fica difícil para uma terceira pessoa entender e ser aceita naquela ligação tão exclusiva.

Essa "falta" de respeito com a caracterização dos personagens principais, a inserção de Irene como uma personagem quase fundamental e a correria e pancadaria que não estariam nos romances originais de Sir Arthur Conan Doyle podem afastar os puristas, mas a atualização, na minha opinião, é mais que bem-vinda. Não há dúvidas de que a franquia irá continuar - vi poucos filmes com ganchos tão óbvios para continuações quanto este, até porque o grande antagonista de Holmes nos livros não teve papel de destaque - ainda. A Londres vitoriana é bem retratada, o figurino inovador se ajusta aos personagens e a trilha sonora é impecável - mas aí, eu sou suspeita para falar porque simplesmente adoro o trabalho do Hans Zimmer, o compositor neste caso.

Um detalhe interessante do filme que merece ser destacado são os efeitos, quase como flashbacks mostrados a platéia, de como as coisas se desenvolveram. Quando Holmes ou Watson tiram conclusões sobre alguma coisa, as cenas originais são mostradas numa rápida sucessão à platéia, mostrando o que de fato aconteceu e possibilitando que todos entendam como os dois chegaram àquelas respostas por meio de suas deduções. Tal mecanismo foi usado de forma semelhante em "O Código da Vinci" (2006), mas não funcionou bem na época - eu acho que, neste caso, só serviu para confundir a platéia, enquanto aqui as ilustrações são bem-vindas.

É um filme, como disse, honesto: não tem pretensões de ser inovador mas não deixa de ser criativo; um filme que, felizmente, não tem nada de elementar.

sábado, 2 de agosto de 2008

O Enigma do Horizonte (1997)



Nome: O Enigma do Horizonte (Event Horizon).
Diretor: Paul W.S. Anderson.
Gênero: Horror/Ficção Científica/Suspense/Mistério.
Elenco: Laurence Fishburne, Sam Neill, Joely Richardson, Jason Isaacs e outros.
Nota: 3 estrelas.
Página no IMDb

Ficção científica e horror parecem dois campos impossíveis de funcionarem lado a lado; a tentativa feita pelo diretor Paul W.S. Anderson, no entanto, é bastante impressionante. Mais do que um filme de ficção científica, trata-se de um horror ambientado no espaço.

Estamos em 2047. A Terra já firmou sua primeira colônia na Lua, Marte é explorado economicamente e, sete anos antes, uma nave espacial chamada Event Horizon foi construída e enviada para pesquisas pelo universo - projetada para ir muito mais além do que suas antecessoras. A expedição, no entanto, transforma-se no maior desastre espacial da história quando a nave desaparece sem deixar sinal, próximo de Netuno.

Voltando ao ano de início da história, somos apresentados ao doutor William Weir (Sam Neill), convidado a bordo da nave Lewis and Clarke que por sua vez é comandada pelo capitão Joe Miller (Laurence Fishburne) e sua tripulação. Todos os integrantes da nave foram retirados das suas férias e forçados em uma missão até Netuno, sem saber direito os motivos ou as ordens que estão por trás de tudo.

É numa breve reunião que o doutor Weir explica à tripulação toda a verdade: as notícias sobre a Event Horizon ter explodido devido a um superaquecimento dos seus motores era mentira; ela, na verdade, havia desaparecido por completo e sem dar qualquer sinal - até o momento. Uma transmissão de áudio foi captada, proveniente da nave perdida. Uma edição desse arquivo de áudio dava a impressão de que uma voz humana pedia por socorro, falando em latim.

A Event Horizon foi contruída não para pesquisas, mas sim como um projeto secreto do governo; a nave foi feita com um motor específico que faria com que fosse possível viajar na velocidade da luz - mas sem quebrar as leis da física. A nave foi equipada com um gerador de buracos negros, que poderia distorcer o espaço-tempo de forma a possibilitar viagens em uma rapidez absurda, criado pelo Dr. Weir.

Após quase sessenta dias de viagem, a tripulação da Lewis and Clarke chega à Netuno, encontrando a Event Horizon flutuando na órbita do planeta. Como as varreduras por sinais vitais parecem estranhas, o capitão decide que a busca por sobreviventes deverá ser feita nos moldes antigos: andando por cada compartimento da nave com um time de busca. Levando consigo outros dois tripulantes, a equipe chega à nave abandonada.

De início, as impressões são sombrias; ninguém aparenta ter sobrevivido. A área médica parece nunca ter sido utilizada e o time de busca encontra pedaços de corpos humanos e tudo mais congelados, cristalizados devido ao problema com o aquecimento interno da nave. Enquanto isso, Justin (Jack Noseworthy) explora a engenharia da Event Horizon, descobrindo uma misteriosa esfera preta com três anéis metálicos girando constantemente ao seu redor: é o mecanismo criador de buracos negros - que surgem sempre quando os anéis se alinham sob o controle do capitão.

O curioso tripulante toca o centro da esfera, que parece feita de algum material líquido - mas, ao tocá-la por uma segunda vez, ele é sugado para dentro da mesma; a tripulação percebe que algo está errado e imediatamente vai resgatá-lo, mas algo dá muito errado na volta - uma estranha explosão combinada com a volta de Justin acaba por danificar severamente a Lewis and Clarke, forçando o resto dos tripulantes à migrarem para a Event Horizon.

Os sistemas básicos voltam à nave, como o gravitacional e o de ventilação, mas há um problema: o ar da nave será suficiente para apenas 20 horas, ficando tóxico para seres humanos depois disso em razão da concentração de gás carbônico. Começa, então, uma corrida contra o tempo para consertar a Lewis and Clarke e ir para casa, já que obviamente não há ninguém que precisa ser resgatado ali.

Coisas estranhas começam a acontecer também; ao seu modo, quase todos os tripulantes vêem pessoas conhecidas ou flashes de cenas dantescas, envolvendo sangue e dor. A primeira a passar por isso é a oficial médica Peters (Kathleen Quinlan), que acredita ter visto seu filho na nave; Justin, internado e sob obversação dela e de D.J. (Jason Isaacs), o outro médico, parece ter entrado em um estado de choque desde a sua experiência com o núcleo da nave; Dr. Weir tem visões da sua esposa e o próprio capitão tem lembranças perturbadoras do seu passado.

Enquanto a Lewis and Clarke segue sendo consertada por dois tripulantes, a Tenente Starck (Joely Richardson) fala de sua teoria sobre os sinais vitais esquisitos da nave para o capitão: o fato da origem dos sinais obtidos não ser identificada só pode dizer que vem da própria nave, como se esta estivesse efetivamente viva e reagindo a cada um dos tripulantes. Há, também, a possibilidade de que ela tenha trazido algo de volta da sua viagem de sete anos pelo buraco negro.

Os ânimos esquentam na Event Horizon; enquanto o Dr. Weir credita todas essas ilusões ao nível de gás carbônico que vem aumentando e a tensão nascida do risco de não se voltar para casa, outros acreditam que se trata de algo muito real para ser apenas imaginação. Nesse meio tempo, Justin acorda do seu estado de choque e tenta se suicidar, murmurando durante todo o tempo sobre "o lugar para onde ele foi", sobre "a escuridão dentro dele" e como ele não deseja voltar para esse lugar. Muito provavelmente Justin esteve onde a nave passou os últimos 7 anos, desaparecida.

O tripulante quase morre - mas tem suas condições estabilizadas por D.J., que tem uma conversa reveladora com o capitão; enquanto este fala que viu coisas que nunca tinha contado para ninguém (o que quer dizer que a Event Horizon provavelmente sabe o que vai na cabeça de cada um, materializando seus segredos e medos), o outro confessa que entendeu errado a mensagem em latim que todos ouviram no início da viagem: tendo sido ele o tradutor do arquivo de áudio, D.J. corrige sua versão inicial para algo que é, na verdade, "salvem-se do inferno".

O conserto da Lewis and Clarke finalmente termina e a tripulação se prepara para voltar, particularmente ansiosa depois de ter assistido a um vídeo recuperado da Event Horizon que mostra os antigos tripulantes sendo brutalmente assassinados por um estranho ser cheio de cicatrizes - o autor da frase em latim. Ao abortarem a missão e receber a ordem de abandonar a nave para voltar para casa, o Dr. Weir fala que ele está em casa, começando a agir de uma forma suspeita.

Um por um, a maioria dos tripulantes começa a alucinar e/ou então sofrer ataques do Dr. Weir, que, após a morte de Peters, arranca os próprios olhos e começa a perseguir os tripulantes da Lewis and Clarke, enquanto inicia uma contagem regressiva para fazer o retorno da nave para onde ela esteve nos últimos anos. O capitão, porém, percebe algo de errado e alerta a tripulação, buscando separar os decks frontais da Event Horizon do resto da mesma como medida de segurança - o próprio doutor havia explicado que a nave possuía esse mecanismo mais cedo.

As seqüências finais lidam com mais aparições, sangue e pesadelos - a maioria sobre o inferno, já que foi essa a dimensão paralela onde a Event Horizon esteve. O final do filme, de uma maneira geral (bem como a sua estrutura), me lembra Sunshine, outro filme que trata de uma expedição espacial - mas com uma missão diferente (e feito em 2007, dez anos após este).

Eu sou facilmente assustada por filmes de terror e admito que não sabia de que estava assistindo um até certo tempo depois; no começo, eu estava convencida de que se tratava mais de um representante do gênero de ficção científica, esse sim um campo que eu adoro. Mas tenho que confessar que, embora não seja nada extraordinário, O Enigma do Horizonte realmente assusta em alguns momentos.

O mistério todo relacionado à Event Horizon funciona bem; durante a primeira hora do filme, as visões da tripulação, a tensão dentro das naves e a contagem regressiva em relação ao ar "respirável" criam um clima de apreensão excelente para esse tipo de filme - a platéia eventualmente se assusta junto com os personagens. Mas nos vinte minutos finais, eu tenho a sensação de que o filme poderia ter sido cortado sem prejuízos - afinal, os diálogos ficam estranhos e as motivações dos personagens mais ainda.

Laurence Fishburne e Sam Neill são os atores com mais destaque em cena; ambos acrescentam algo ao filme com suas atuações, especialmente Laurence; é impossível para mim, no entanto, não ligar o seu papel como o capitão Miller aqui ao seu Morpheus de Matrix, mesmo sabendo que a trilogia foi feita depois; ambos são capitães de naves que agem de uma forma muito semelhante para não serem comparados, sem contar que é esse tipo de personagem (autoritário, em posição de poder e de caráter mais militar) que se transformou na sua marca registrada como ator.

O Dr. Weir de Sam Neill também me impressionou; gostei particularmente da mudança que se opera nele do início para o final do filme, assumindo contornos macabros e bem perturbadores; o mesmo não digo de Joely Richardson, que não me convenceu muito com a sua tenente - a personagem é fraca e sem muito de interessante a acrescentar, ficando um pouco presa ao estereótipo de personagens femininas de séries de ficção científica. Mas está aí outro ponto fraco: ninguém se preocupou muito em fazer bons personagens com boas histórias - eles estão lá simplesmente para serem mortos e exibidos ao público depois, sem criar grandes laços com a platéia a ponto de que ela se identifique com algum deles. O personagem de Richard T. Jones é o responsável pelas poucas partes cômicas e se sai bem nelas.

Jason Isaacs é alguém que eu não posso honestamente criticar com imparcialidade; eu simplesmente acredito que ele está perfeito em todos os seus papéis, mesmo com o seu estranho médico. D.J. é um dos poucos que não é assombrado e parece pouco disposto a acreditar em aparições, sendo um personagem mais consistente - mas sofre do mesmo mal: falta de história pessoal, motivos, justificativas - enfim, tudo aquilo que colabora para que um personagem fictício tenha, de fato, três dimensões.

A fotografia e a trilha sonora são boas e combinam com o tipo de filme; os tons sombrios predominam de uma forma assustadora e todos os clichés do gênero são utilizados (da falta de luz nas naves aos ângulos de câmera que sempre mostram os personagens se assustando de forma que a platéia também se assuste). Na minha opinião, o filme poderia dispensar a maioria das cenas envolvendo carnificina - não sou fã desse tipo de coisa, confesso; mas acho que o suspense psicológico e os sustos e traumas são muito mais assustadores do que gente sendo dissecada viva.

Mesmo não sendo uma grande fã do gênero, dá para ver que o final desanda; deu a impressão de que queriam fazer algo muito mais grandioso, sangrento e macabro do que realmente ficou. Mas ele realmente assusta, faz arrepios descerem a espinha e, finalmente, faz jus à tagline "espaço infinito - terror infinito".

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Entrevista Com o Vampiro (1994)



Nome: Entrevista Com o Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles).
Diretor: Neil Jordan.
Gênero: Drama/Horror/Fantasia.
Elenco: Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Kirsten Dunst e outros.
Nota: 4 estrelas.
Página no IMDb

Toda vez que a figura folclórica do vampiro vem à baila, não se pode deixar de lembrar de dois autores: o primeiro, Bram Stoker: autor do famoso romance "Drácula", que deu forma ao mito; a segunda, Anne Rice: responsável por "humanizar" de certa forma os vampiros, mas dando-lhes também algumas características que permanecem até hoje com eles na maioria das suas aparições recentes: a beleza surreal e a inegável sensualidade e erotismo que envolvem os ataques e sua transformações em vampiros.

"Entrevista Com o Vampiro" é o primeiro volume das crônicas vampirescas de Anne Rice e, também, o primeiro de seus trabalhados levado ao cinema (sendo que a própria Anne Rice se encarregou de fazer a adaptação do livro para as telas, assinando o script), divergindo em alguns pontos com a história contada originalmente no livro, mas mantendo o mesmo tom no geral.

Somos inicialmente apresentados a um jovem repórter (Christian Slater), prestes a entrevistar um homem misterioso que se diz um vampiro. Cético, o garoto só se convence quando o vampiro em questão se move rápido demais para olhos humanos, finalmente dando início a uma longa narrativa sobre a história da sua vida - antes e depois da sua "transformação".

O vampiro se apresenta como Louis (Brad Pitt), um homem de 24 anos em 1791, vivendo no antigo Estado de Louisiana e ainda parte da França. Dono de uma plantação imensa, ele havia acabado de perder a esposa no parto do primeiro filho, tendo enterrado ambos há poucos meses e sofrendo duramente com a perda; sem motivos para viver e desejando parar com a dor que sentia de algum modo, Louis era o alvo perfeito para qualquer saqueador ou bandido - mas foi um vampiro que o encontrou numa noite.

Lestat (Tom Cruise) foi quem encontrou Louis, atacando-o para logo depois oferecer-lhe uma chance em uma nova vida, longe de toda dor e sofrimento que os mortais conheciam. No dia seguinte, o jovem decide aceitar a chance de uma vida diferente, assistindo seu último nascer do sol e finalmente tornando-se um vampiro - o procedimento, relativamente simples, consistia na quase total drenagem do sangue do seu corpo por Lestat, que depois lhe oferece do seu próprio sangue para beber.

Louis passa primeiro pela morte do seu corpo, que se adapta à sua nova condição de vampiro. Aos poucos, ele começa a enxergar as coisas de uma maneira diferente, a ouvir melhor os barulhos noturnos e a sentir-se como parte da noite. Lestat ensina-lhe o básico: como dormir dentro de caixões para se proteger da luz do sol e como atacar humanos durante a madrugada, mas Louis não suporta a idéia de ferir um mortal ou trazer-lhe sofrimento, passando a viver do sangue de animais quando descobre que tal fato é possível.

As constantes tentativas de Lestat de "converter" seu companheiro aos modos naturais dos vampiros acabam por descontrolar Louis que, em um impulso, ataca uma das empregadas da sua casa, matando-a. A essa altura, todos os escravos da fazenda já suspeitavam gravemente do seu antigo mestre, de forma que ele decide sair dali, incendiando a mansão e gritando para que os escravos se salvassem dele - supostamente o "diabo".

Os dois se mudam para Nova Orleans, onde Lestat continua matando indiscriminadamente - algo, segundo ele, que torna os vampiros as criaturas mais próximas de Deus. Após um espetáculo particularmente cruel do vampiro mais velho envolvendo duas garotas, Louis sai vagando pelas ruas da cidade, perturbado e quase sem consciência de onde ele está indo até se achar em uma região miserável da cidade, atraído pelo grito de uma criança. Sem conseguir se conter, ele morde a pequena menina que não parecia perceber que sua mãe havia sido consumida pela praga terrível que assolava a cidade.

Lestat encontra os dois e é justamente o aparecimento do outro que evita que Louis drene a garota por completo, deixando-a doente devido à falta de sangue. Na noite seguinte, o próprio Lestat mostra que a única saída é transformá-la também em um vampiro ou então entregá-la à morte, de forma que o mais novo dos dois vampiros opta por permitir a transformação da garotinha, prontamente nomeada Claudia (Kirsten Dunst); a chegada dela impede que Louis abandone Lestat, e os três passam a constituir uma espécie de "família".

Enquanto Claudia desenvolve um gosto voraz e sem culpa para matar como Lestat, ela também tem um forte laço com o mais novo dos vampiros, sendo mimada pelos dois "pais" que possui. Em certo ponto, porém, ela se dá conta de que nunca irá mudar fisicamente, sendo condenada a uma eternidade em um corpo de aproximadamente dez anos. Ela sente ódio de Louis e Lestat - do primeiro, por ter se alimentado dela; do segundo, por tê-la transformado - mas acaba eventualmente perdoando Louis, a quem considera seu amor e criador. Ambos, no entanto, sentem que devem sair da cidade e procurar por respostas sobre os vampiros e sua natureza, já que Lestat ou recusa compartilhar seu conhecimento ou então esconde sua ignorância sobre essas questões.

Por meio de um plano genial, Claudia se livra do vampiro mais velho, passando a estudar os mitos e lendas sobre vampiros enquanto esperam o dia da viagem por navio para a Europa. Enquanto ambos davam pelo antigo companheiro como morto, Lestat, porém, volta em uma forma cadavérica e em que nada lembra sua figura sedutora e charmosa de antes, tendo sobrevivido à base de sangue de animais. Louis, enquanto tenta proteger Claudia da ira do outro vampiro, incendeia Lestat e a casa junto, fugindo para o barco e para longe do continente com a garota.

É somente depois de muito tempo, em Paris, que Louis acaba encontrando outro vampiro - justamente quando já tinha cansado de procurá-los. Armand (Antonio Banderas) lhe dá um cartão e convida tanto Louis quanto Claudia para uma apresentação no Théâtre des Vampires, um local onde só são admitidos aqueles previamente convidados. No local, uma trupe de vampiros atores se passam por humanos encenando vampiros - enganando a audiência composta, na sua maioria, por mortais também.

Depois do espetáculo, os dois visitantes são convidados por Armand a conhecer o subterrâneo do lugar, onde respostas vagas relacionadas aos questionamentos de Louis são dadas. Aparentemente o líder dos vampiros que habitam o teatro, Armand oferece um lugar ali para o recém-chegado (e agora americano, com a entrada da Louisiana para a federação dos Estados Unidos) sendo que a mesma cortesia não é estendida à Claudia - pelo contrário. Pelo modo como a conversa se passou entre Louis, Claudia e Armand, os outros vampiros do lugar começam a suspeitar que eles mataram seu mestre, sendo esse o único crime punível com morte ali: matar um semelhante.

A garota sente que algum sentimento estranho nasceu entre o líder dos vampiros do teatro e Louis, de forma que ela busca por uma substituta para quando Louis decidir abandoná-la: Madeleine (Domiziana Giordano) aceita a missão e pede, durante uma noite, para ser transformada pelo vampiro, a fim de que possa cuidar eternamente de Claudia da forma como ela merce e precisa. Madeleine, uma artesã especializada em lindas bonecas, perdera uma filha e a idéia de uma nova filha que jamais morreria seria perfeita. Embora o vampiro insista que jamais deixará a garota, ele acaba por transformar a outra mulher - perdendo, nesse ato, o pouco de humanidade que ainda lhe restava ao praticar o ato que ele jurara nunca executar em um mortal.

Os três são então surpreendidos pelos vampiros do teatro, sendo arrastados até o subterrâneo do mesmo novamente. Convencidos do crime de Claudia, ela e Madeleine são condenadas à morte enquanto Louis é colocado em um caixão e emparadado a seguir. Só na noite seguinte Armand aparece, salvando o vampiro do seu confinamento e deixando que ele descubra que as duas mulheres foram queimadas vivas pelo sol.

Desolado, Louis incendeia o teatro e mata os vampiros que lá habitavam, com a exceção de Armand - que sabia das intenções do outro e mesmo assim nada fez para evitar o massacre. Ele mais uma vez oferece um lugar a Louis, que recusa, descobre que a morte de Claudia foi intencional da parte do outro vampiro e finalmente deixa-o em definitivo, viajando pelo mundo.

Já nos dias atuais e de volta à Nova Orleans, Louis reencontra Lestat, sozinho em uma casa abandonada e com medo da modernidade. Embora ele insista para que Louis volte a viver com ele, a oferta é recusada e a entrevista também termina. O jornalista, então, pede veementemente para que ele seja transformado em um vampiro, após o inconformismo com o final da história de Louis - sendo surpreendido por uma explosão de raiva por parte de Louis, que desaparece. Com medo, o garoto sai correndo de volta para o carro, onde inesperadamente encontra Lestat, que o ataca e promete dar a ele "a chance que nunca teve".

O primeiro detalhe a ser comentado é a performance de Tom Cruise - embora eu imagine Lestat muito mais bonito, é inegável que ele é Lestat; o vampiro malicioso, cruel e fascinante criado por Anne Rice simplesmente se tornou vivo na pele do ator, que teve sua contratação para o papel questionada e criticada pela própria autora do livro. Após assistir o resultado final, porém, Anne Rice chegou a pagar mais de milhares de dólares por duas páginas na Vanity Fair para elogiar a atuação de Tom Cruise e o filme em geral.

Outra revelação e que garantiu a maioria das indicações de prêmios que o filme recebeu foi Kirsten Dunst. A atriz demonstrou a inocência de uma criança e, ao mesmo tempo, as complexas maquinações de uma mulher adulta com a idade que tinha na época - 12 anos apenas. Não há como não admirar o talento e a maturidade da atriz no seu papel, angelical na aparência como Claudia pede.

O resto do elenco é talentoso e contribui para a atmosfera sombria, sensual e cheia de suspense nas horas corretas, mas alguma coisa fica faltando - não sei dizer o quê. Apesar de tudo, prefiro o final dado ao filme do que aquele contado no livro, simplesmente porque o Lestat de Tom Cruise é tão delicioso e seu sarcasmo ao fim combina tão bem com tudo que se contou até aquele momento que a cena ficou perfeita, com nada mais nada menos que "Sympathy for the Devil" ao fundo, numa versão feita pelo Guns N' Roses especialmente para o filme.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O Beijo da Traição (1998)



Nome: O Beijo da Traição (Judas Kiss).
Diretor: Sabastian Gutierrez.
Gênero: Policial/Drama/Suspense.
Elenco: Carla Gugino, Simon Baker, Alan Rickman, Emma Thompson e outros.
Nota: 3 estrelas.
Página no IMDb

O começo pode lembrar um pouco o estilo de Quentin Tarantino, mas a impressão passa com o desenrolar do filme; trata-se, afinal, de algo muito diferente. Logo de cara, assistimos a dois homens e uma mulher seqüestrarem um rapaz, atirarem numa mulher que descia as escadas e que os viu e correrem para um caminhão no estacionamento do prédio, onde um quarto integrante da trupe aguardava.

A única seqüestradora, então, começa a conversar com Jesus e a explicar o quê está acontecendo para ele e para a audiência. Ela é Coco Chavez (Carla Gugino), uma linda mulher que ganhava a vida até então criando armadilhas para divórcios com o namorado, Junior Armstrong (Simon Baker), onde ela normalmente seduzia o marido e o namorado aparecia para tirar fotos e apresentar as fantásticas demandas da mulher "traída".

No entanto, é Coco quem tem a idéia de mudar de ramo, partindo para o seqüestro: afinal, apenas um deles bem-feito e o resgate pode ser suficiente para uma vida inteira na beira da praia com um martini na mão. O casal primeiro convence Lizard Browning (Gil Bellows) e depois Ruben Rubenbauer (Til Schweiger) - o primeiro competente e intimidador quando ao telefone; o segundo assustadoramente estúpido e capaz das coisas mais bizarras.

Entram em cena logo depois a dupla encarregada de solucionar tanto o seqüestro quanto o assassinato da mulher que descia as escadas logo no começo do filme: são eles Sadie Hawkins (Emma Thompson), agente do FBI e David Friedman (Alan Rickman), detetive da polícia. Forçados a trabalherem juntos por suas tarefas estarem aparentemente ligadas, a troca de informações entre eles é o que vai ajudar a chegar ao eventual desenlace do caso.

Enquanto isso no cativeiro, Coco não está nada bem. Tendo matado pela primeira vez, ela se sente estranha e tenta aliviar a tensão de várias maneiras, seja fazendo sexo com o namorado ou procurando confortar a vítima do seqüestro com conversa (cujo resgate está orçado em "apenas" quatro milhões). Quem cuida do resgate é justamente Walters (Joey Slotnick), um funcionário leal e muito azarado que é acompanhado constantemente pela agente Hawkins, cujos conselhos ou pioram a situação ou então deixam o pobre mediador ainda mais nervoso.

Enquanto o FBI trabalha contra o relógio para encontrar o paradeiro do milionário desaparecido, o detetive Friedman vai atrás de pessoas que conheciam a mulher assassinada. Conversando com sua melhor amiga, ele eventualmente descobre que ela e o homem seqüestrado tinham um affair secreto, sendo terça-feira o dia dos encontros proibidos do casal. Intrigado, o detetive vai atrás do marido da mulher assasssinada, o senador Rupert Hornbeck (Hal Holbrook), depois de ter reunido provas do affair - somente para ser mal-tratado e ameaçado pelo viúvo ao tentar compartilhar as evidências encontradas (ligações telefônicas em um padrão constante entre os dois amantes).

O detetive começa a suspeitar de algo e vai atrás do colega que está substituindo - desde o início ele deixou bem claro que não queria aquela tarefa, mas seu chefe o forçou a assumi-la porque o outro detetive havia se machucado. Com alguma persuasão, ele descobre que o machucado do outro detetive é uma farsa, o que só aumenta as suas suspeitas.

A agente Hawkins, enquanto isso, se prepara junto com Walters para a entrega do resgate. O problema é que do outro lado, Lizard fica mudando os locais para onde o resgate deve ser levado, forçando tanto o FBI quanto o funcionário a correrem para diversos locais diferentes, de uma borracharia a um motel de beira de estrada, sempre cumprindo o horário espeficificado no telefonema para não correr riscos do pobre seqüestrado ser assassinado enquanto isso.

Junior e Ruben acompanham Walters, sempre escondidos da vista do mesmo, fornecendo por telefone os dados que Lizard precisa para convencer o FBI e o resto dos interessados no final do seqüestro de que ele está bem perto - e observando tudo. Coco permanece com a vítima no cativeiro, especialmente preocupada com o namorado e pensando no dia em que eles se conheceram, bem como os diversos momentos que eles já passaram juntos.

Walters consegue, em determinado momento, entregar a maleta cheia de dinheiro da forma como os seqüestradores haviam pedido, lançando-a de um trem em movimento sobre uma ponte. Ruben e Junior pegam a pasta, fugindo dos tiros e dirigindo apressadamente para longe dos agentes do FBI. É dentro do carro que Junior tem um problema, precisando descer para pegar algo no porta-malas do carro, deixando o outro seqüestrador com o dinheiro dentro do veículo - somente para aproveitar a pequena parada para matar Ruben, pegando o dinheiro, trocando de carro e sumindo dali. É o primeiro momento em que o título faz sentido com a trama.

O detetive Friedman, a essa altura, já desconfia bastante do senador, especialmente após uma conversa reveladora com seu chefe. Seguindo-o discretamente, ele percebe que, para começo de conversa, o seqüestro e o assassinato estavam interligados - bem como foi ele o responsável por orquestrar ambos. Do outro lado, é Junior quem está facilitando as coisas, deixando Coco e Lizard desarmados e revelando o local do cativeiro.

Mas Coco prova que não é apenas bonita - tem cérebro também. Em uma breve conversa com a sua pobre vítima, ela descobre sobre o affair que ambos mantinham, bem como a data dos encontros: terça-feira. Lentamente, ela se lembra de como o seqüestro havia sido planejado, Junior manipulando-a de forma que ela acreditasse que aquele seria um dia como qualquer outro e não um especial. Chocada com a possibilidade da traição, ela corre para as armas que haviam sido deixadas na casa e descobre todas sem munição, correndo em direção ao carro onde ela deixava um revólver de reserva.

Enquanto isso, os capangas do senador chegam ao cativeiro, dando início a torturas e todo tipo de humilhação por parte do político, que transmite sua voz por um rádio. Ao mesmo tempo, tanto Friedman quanto Hawkins já perceberam a trama, mas um acidente de carro que deixa ambos em condições improváveis de continuarem com a perseguição automobilística.

Prosseguir com o relato da história seria entregar o final por completo, coisa abominável quando se trata de um suspense. É, aliás, um noir que tem na traição o seu principal mote - afinal, quem está traindo quem no filme? A corrupção também corre solta, sobrando nos personagens de Alan Rickman e Emma Thompson a pouca decência das duas coorporações que representam e que parecem ter sucumbido ao poder do dinheiro.

É essa dupla também a responsável pelos melhores momentos de comédia do filme; seus diálogos são afiados e rápidos, regados com uma familiaridade que esses dois grandes nomes do cinema britânico não conseguiram de um dia para o outro: sua amizade dentro e fora das telas contribuiu para uma química invejável entre eles.

Já Carla Gugino funciona como a mulher fatal e com roupas coladas que é de praxe nesse tipo de filme; sua atuação, no entanto, não é espetacular a ponto de carregar o filme como narradora. Talvez, em um papel de menor destaque, essas falhas não seriam tão facilmente notadas. A Simon Baker também falta firmeza, na minha opinião; o jeito como ele atua durante todo o filme me parece forçado, demonstrando sempre a mesma cara e as mesmas reações em todos os pedaços.

O maior problema não é tanto com o elenco e sim mais com o enredo - o filme, para um seqüestro, se passa devagar demais. Com apenas uma trama principal, ela não poderia se desenrolar tão lentamente, descaracterizando o gênero. Os personagens também são mal apresentados, não ficando muito para o espectador descobrir, entender e apreciar cada um - salvo, talvez, pelo par já destacado e formado por Rickman e Thompson.

A localidade (Nova Orleans) também se mostra um pouco ingrata. O valor dado à paisagem foi mínimo, podendo muito bem ter se passado em qualquer lugar menos marcante (e mais barato). Os trechos aleatórios de um filme pornô com alienígenas, se muito, dão um tom de bizarro que não casa exatamente com o resto da trama - outra coisa que poderia ter sido dispensada.

No geral, é um filme divertido e com um final merecido, considerando a trama desenvolvida até então. Não perca uma das cenas finais, com o detetive e a agente totalmente estrupiados porém felizes: é um bom resumo do filme: muito esforço para não chegar a nenhum lugar marcante, mas suficiente para distrair e tirar bons momentos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Aladdin (1992)



Nome: Aladdin (Aladdin).
Diretor: Ron Clements e John Musker.
Gênero: Comédia/Musical/Fantasia/Desenho.
Elenco: Scott Weinger, Linda Larkin, Robin Williams, Jonathan Freeman e outros (versão original); Marcus Jardym, Sílvia Goiabeira, Márcio Simões, Jorgeh Ramos e outros (versão brasileira).
Nota: 5 estrelas.
Página no IMDb

Toda e qualquer criança da metade ocidental do globo que teve uma infância saudável e normal viu pelo menos algum filme da Disney, senão todos os seus clássicos. Antes da computação gráfica atingir níveis fantásticos e dos efeitos especiais parecerem tão reais quanto os atores de carne e osso, toda uma geração de obras-primas em 2D deu à Disney a fama que ela conquistou em todo o mundo.

Meu desenho favorito da Disney é justamente Aladdin, uma das várias versões da lenda do gênio da lâmpada mágica. É com a lâmpada, aliás, que a história começa: um mercador árabe parece saber que é o artigo mais exótico e raro da sua coleção, e a lenda sobre ela se inicia.

Somos apresentados primeiramente a um homem de aspecto sinistro e voz maligna: é Jafar (voz de Jonathan Freeman, na versão original, e de Jorgeh Ramos na brasileira), o grão-vizir de Agrabah, a cidade onde toda a história se desenvolve. Juntando as duas metades de uma jóia em formato de escaravelho, a mesma ganha vida e mostra a localização de uma caverna dos tesouros, que não permite a entrada de ninguém - apenas de um "diamante bruto".

De volta à cidade de Agrabah, conhecemos Aladdin (voz de Scott Weinger em inglês e Marcus Jardym no Brasil), um rapaz humilde que rouba para comer e vive nas ruas, sempre com a ajuda do seu fiel macaquinho Abu, que compreende perfeitamente o que qualquer humano fala e parece se expressar como um, apesar de emitir apenas grunhidos. É após mais uma das suas fugas dos guardas do palácio que tentam lhe pegar por um furto que ele vê duas crianças com fome, revirando o lixo. Apesar dele também estar faminto, ele entrega a pouca comida que conseguiu aos garotos, ficando com o estômago vazio e uma sensação de bem-estar.

Os dois irmãozinhos, no entanto, correm para a rua onde um príncipe está passando a caminho do palácio, quase sofrendo um acidente quando ficam na frente do cavalo. Não fosse por Aladdin, alguma coisa séria poderia ter acontecido, mas o nobre pomposo do alto do cavalo nem parece notar isso, a não ser na forma de um inconveniente na sua ida ao palácio. Revoltado com o tratamento que alguém tão rico dispensa aos mais pobres, Aladdin xinga o príncipe, certo de que se ele tivesse tanto dinheiro quanto ele, seria bem mais educado.

As coisas não se passam muito bem no palácio, no entanto. O sultão de Agrabah (voz de Douglas Seale no original e de Pietro Mário na dublagem nacional) tenta desesperadamente encontrar um marido para sua filha, a princesa Jasmine (Linda Larkin na dublagem original e Sílvia Goiabeira na brasileira), quem recusa todos os príncipes que já conheceu por serem metidos, arrogantes e pretensiosos. Seu tigre de estimação contribui para espantar todos os seus pretedentes também. Inconformada com as leis a que é submetida e desejando se casar por amor, a princesa decide então escapar do palácio onde vive quase como prisioneira sem poder sair, querendo ver o mundo.

É no mercado da cidade que Aladdin vê Jasmine pela primeira vez, ficando encantado com a beleza da princesa. Quando a mesma vê um garotinho que tinha fome e lhe dá uma maçã, o comerciante imediatamente exige o pagamento, que ela não tem condições de fazer por ter saído sem nada do palácio. Vendo a situação, Aladdin vai ao resgate da princesa, inventando uma história para ambos saírem ilesos do que quase terminara com a amputação da mão direita de Jasmine.

É nessa hora, no palácio, que Jafar descobre quem é o único homem que pode entrar na caverna dos tesouros: Aladdin. Um feitiço com um anel que o sultão possui lhe revela a face do escolhido, e ele manda os guardas do palácio atrás do ladrão, determinado a conseguir a lâmpada que ele sabe ficar na caverna. Os dois são encontrados então na "casa" de Aladdin, o lugar onde ele e Abu se refugiam normalmente, com uma belíssima vista do palácio. Com a prisão abrupta, o casal mal conseguiu trocar informações a respeito deles próprios ou sobre seus nomes - mas em uma tentativa final de libertar Aladdin, Jasmine se revela e o outro fica abismado com a possibilidade de ter passado os últimos momentos com a princesa da cidade.

Jafar faz então Jasmine acreditar que Aladdin havia sido decapitado, deixando a moça arrasada. A verdade, no entanto, é que ele se encontrava no calabouço do palácio, onde Jafar, na forma de um velho maltrapilho ajuda o outro a escapar e o leva para o deserto, onde ele encontrará todo o tipo de tesouros para viver uma vida confortável até o final dos seus dias. Tentados, Aladdin e Abu seguem o estranho velho até a caverna dos tesouros, que finalmente reconhece seu escolhido e lhe permite a entrada.

Uma única regra é imposta pela caverna, no entanto: se eles desejam pegar a lâmpada e sair dali vivos, devem tocar somente na lâmpada e em mais nada, por mais tentadores que sejam os tesouros espalhados em todas as câmaras da caverna. Procurando pela lâmpada, os dois são então surpreendidos por um tapete mágico, que parece curioso a respeito deles e depois do convite de Aladdin, prossegue junto com eles, mostrando ser um amigo fiel e muito útil.

A jornada vai bem até Aladdin pegar a lâmpada, no alto de uma estranha rocha - no mesmo momento em que Abu, não conseguindo mais se conter diante de um gigante rubi, agarra a jóia. A caverna imediatamente começa a tremer e a se desfazer por dentro, com explosões, fogo e desabamentos; Aladdin teria terminado morto se não fosse a ajuda do tapete para sair de lá literalmente voando.

Na saída da caverna, o velho pede a lâmpada primeiro, Aladdin pede a ajuda para sair - e quando o jovem finalmente cede e passa o objeto, o velho esquece completamente do ladrão e tenta assassiná-lo. No final, a caverna é novamente selada, e enquanto Jafar pensa que ficou com a lâmpada do lado de fora, Aladdin e Abu se vêem presos dentro da caverna com o tapete.

Esfregando a lâmpada por acidente, Aladdin liberta o Gênio (voz de Robin Williams no original e Márcio Simões no Brasil), uma criatura grande, azul e cheia de poderes mágicos, que explica ao ladrão que ele é seu novo amo, bem como ganhou direito a três desejos - salvo três condições: o Gênio não pode matar ninguém, fazer uma pessoa se apaixonar por outra ou ainda trazer alguém de volta da morte.

Engenhosamente, Aladdin, Abu e o tapete escapam da caverna com o Gênio sem gastar nenhum desejo, utilizando seu primeiro para virar um príncipe, de forma a conquistar Jasmine. É assim que ele vira o príncipe Ali Ababwa, fingindo ser alguém que ele não é para casar com a linda princesa e não sendo nada bem-sucedido de início, apesar do sultão adorá-lo.

É com um passeio noturno com a princesa que eles finalmente se acertam, sendo que Jasmine consegue ver as semelhanças entre ele e o rapaz que conheceu no mercado - que são, afinal, a mesma pessoa: Aladdin. O ladrão se entrega falando sobre Abu (agora transformado em elefante pelo Gênio) e tenta consertar dizendo que ele se disfarçava para ir ao mercado, porque ninguém gostava de ficar preso dentro do palácio. A mentira, por ora, funciona com a princesa.

Na volta ao palácio, Aladdin é atacado pelos guardas do palácio e jogado no fundo do mar com uma grande bola de metal presa ao seu corpo - uma clara tentativa de assassinato por parte de Jafar, que não quer que a princesa se case porque senão ele será imediatamente despedido. Livrando-se do príncipe Ali Ababwa, ele muda as leis de forma a poder casar com a princesa se ela não conseguir arrumar um marido no tempo hábil que lhe resta, enfeitiçando o sultão com o seu cajado em forma de cobra.

O Gênio, no entanto, salva Aladdin e ele retorna triunfalmente ao palácio, desmascarando Jafar e anunciando o seu casamento com Jasmine posteriormente. Humilhado, o grão-vizir percebe antes de escapar do palácio que o príncipe possui a lâmpada, sendo ele o rapaz do mercado. Com a ajuda de Iago (voz de Gilbert Gottfried no original e de Rodney Gomes na dublagem brasileira), ele rouba a lâmpada e passa a ser o novo amo do Gênio, mudando completamente a cara de Agrabah.

Seus desejos são virar sultão, seguido de uma vontade por amplos poderes como feiticeiro. Por mais que o Gênio não queira obedecer aos comandos de Jafar, ele o faz com pesar, não podendo se livrar da servidão que sua condição como Gênio o coloca. O ex-grão-vizir então se livra de Aladdin, mandando-o para longe e o rapaz se culpa por tudo, sabendo que se ele tivesse libertado o Gênio com seu último desejo e revelado a verdade para Jasmine (que acabou descobrindo tudo pela pior maneira por meio da Jafar), nada daquilo estaria acontecendo.

É com muita astúcia que Aladdin consegue reverter a situação, finalmente cumprindo sua palavra e libertando o Gênio, além de conseguir casar com a princesa no final. O vilão do filme, Jafar, é mandado para bem longe - mas retorna em um segundo filme com mais confusão, que no entanto, não chega aos pés do original.

Aladdin, como todas as obras da Disney desse período, ficou famoso por suas músicas. Dubladas em vários idiomas, elas fazem parte da memória que várias crianças possuem da sua infância, e eu não sou exceção. As vozes de Aladdin e Jasmine, quando cantando, são interpretadas por pessoas diferentes, mas no geral os outros dubladores permanecem. As mais famosas, neste caso, são "A Whole New World" ("Um Mundo Ideal") e "A Friend Like Me" ("Amigo Insuperável"), marcantes em qualquer
idioma. Eu pessoalmente prefiro a segunda música e também a "Prince Ali" ("Príncipe Ali"), ambas cantadas pelo Gênio que é meu personagem favorito.

O filme segue a estrutura de conto de fada: o início calmo e pacífico, onde o herói começa a se dar bem e finalmente acontece algo ruim, que é superado com esforço e então chegamos ao "felizes para sempre". O fato da trama ser conhecida e/ou previsível, no entanto, não tira nenhuma parte do encanto do filme. Além das músicas, a dublagem desse filme (como de todos os outros da Disney) é impecável, seja no original ou no Brasil. O trabalho de Robin Williams, como o Gênio, foi o primeiro passo para o costume que temos hoje de pessoas famosas dublarem personagens de desenhos animados. Ele também é creditado por grande parte do sucesso do filme e do seu personagem, tendo improvisado mais de 12 horas de material - para não ser creditado no filme por causa de uma briga com a Disney, que só foi sanada depois de anos.

Outra coisa que me chama a atenção nesse desenho é o tapete, uma criatura sem falas ou rosto que parece ter mais expressão e sentimento do que muitos personagens encontrados em outros filmes. Em certos momentos, é possível ver e sentir o que ele sente, seja alegria, esperança, divertimento ou tristeza, sem que ele esboce sequer uma expressão facial. Sua função para o sucesso de Aladdin no filme é crucial, bem como a de Abu.

Aladdin é um clássico cujo sucesso originou seqüências, série de TV e outros mini-filmes, fazendo parte da formação de várias pessoas educadas numa época onde a criatividade e o talento eram suficientes para produzir uma obra-prima inesquecível.

domingo, 21 de outubro de 2007

À Espera de Um Milagre (1999)



Nome: À Espera de Um Milagre (The Green Mile).
Diretor: Frank Darabont.
Gênero: Drama/Mistério/Fantasia.
Elenco: Tom Hanks, Michael Clarke Duncan, David Morse, Doug Hutchison e outros.
Nota: 5 estrelas.
Página no IMDb

Freqüentemente o cinema busca sua inspiração em outra forma de arte: a literatura. Desta vez, o autor escolhido foi Stephen King, um dos mestres do terror, subrenatural e suspense. E a adaptação cinematográfica faz jus à sua renomada obra.

O filme se passa como um longo flashback: Paul Edgecomb (Tom Hanks) conta a uma amiga sobre o verão do ano de 1935, quando era policial e trabalhava no corredor da morte de uma prisão no estado americano da Louisiana. O nome original do filme vem justamente do fato de que costumava-se dizer que os prisioneiros ali mantidos caminhavam sua última milha sobre um piso de cor verde da sua cela até a grande "atração" do local - a cadeira elétrica.

Um dia, um novo prisioneiro chega: seu nome é John Coffey (Michael Clarke Duncan), um negro de altura impressionante mas que se revela um gigante calmo: ele conversa delicadamente, tem medo do escuro e chora várias vezes - algo que parece terrivelmente ilógico dada a sua condenação pelo estupro e assassinato de duas garotinhas brancas.

A convivência entre os prisioneiros e os guardas é relativamente amistosa, com o respeito imperando ali. É costume que a execução de cada um deles seja treinada antes de ocorrer efetivamente, para impedir qualquer erro que prolongue o sofrimento dos condenados. A rotina é normalmente calma até o dia em que um pequeno rato aparece em frente a mesa dos policiais, que pede por comida e depois se esconde na solitária (utilizada como depósito), onde ninguém consegue encontrá-lo. O mesmo rato torna-se alvo da obsessão de Percy Wetmore (Doug Hutchison), um guarda que possui ligações poderosas mas adora estar ali porque pode intimidar, provocar e causar todo o tipo de sofrimento aos presos - um verdadeiro sádico, desprezado pelos seus colegas.

O mesmo ratinho volta a aparecer mais tarde, tendo sido "domado" por Eduard Delacroix (Michael Jeter), que o nomeia Mr. Jingles. O animalzinho passa a morar na mesma cela de Delacroix, e obedece todos os comandos do preso - um fato surpreendente para todos. Chega também à prisão um sujeito extremamente estranho: William Wharton (Sam Rockwell), que engana a todos como um falso louco e quase estrangula um dos guardas na sua chegada.

É com muito esforço que Wharton (ou "Wild Bill", como é conhecido) é controlado, e quando o guarda atacado é levado embora para ver um médico, Edgecomb se deixa cair no chão da prisão: ele sofre de uma estranha infecção urinária que não vai embora e que nos últimos dias vinha enlouquecendo-o de dor.

No chão e obviamente sofrendo, John Coffey começa a chamar pelo policial e pede para vê-lo - e apesar de dizer que aquela não é uma boa hora, Edgecomb atende o pedido no final - somente para ser agarrado pelo gigante e então ter seu problema curado.

Coffey consegue tocar a parte afetada e então transmitir para si mesmo a doença, depois então abrindo a boca e expelindo do seu próprio organismo tudo aquilo que tinha dentro do seu corpo. Depois desse processo, ele sempre sente um cansaço extremo e dorme, sem querer falar ou comentar sobre nada. Edgecomb comenta com Brutus Howell (David Morse) o milagre que ele acredita ter se operado, mas nenhuma outra prova a respeito dos poderes de John Coffey aparece.

A rotina na prisão segue normalmente, apesar das constantes interferências de Wild Bill - ele não gosta de nenhum dos outros presos e odeia principalmente os policiais, tendo feito todas as malcriações e se comportado do pior jeito possível com todos ali dentro. Ele apronta até mesmo com Percy Wetmore, que fica muito assustado com o fato, inclusive urinando nas próprias calças depois do nervoso e medo que experimentou nas mãos de Wild Bill - e em seguida ameaça o resto dos policiais de demissão, porque se alguma coisa a respeito daquele incidente se espalhasse, todos eles perderiam seus empregos, já que ele possuía conexões importantes.

É ele também que mata Mr. Jingles um dia, feliz por finalmente ter eliminado o rato que tanto lhe incomodava em proporções maiores do que o normal. Desesperado, a dor de Delacroix ao perder o seu animal de estimação é comovente - e os policiais ficam assustados com a crueldade e aparente insanidade de Percy também. É nesse momento que John Coffey pede para que lhe tragam o ratinho, dizendo que talvez ainda haja tempo para ele.

Sem entender nada, os policiais entregam o ratinho - e vêem Coffey trazê-lo de volta a vida, utilizando os mesmos poderes e o mesmo processo anteriormente empregado na infecção de Paul Edgecomb. Dessa vez, há testemunhas, sobretudo Delacroix - que não consegue expressar sua gratidão em palavras ao ver seu caro Mr. Jingles de volta. Percy, ao saber do ocorrido, recusa-se a acreditar em qualquer coisa como um milagre e se sente pessoalmente ofendido.

A vingança do guarda se dá da pior maneira: durante a execução de Delacroix. Ele havia pedido para o chefe da seção (Paul Edgecomb) para comandar uma única execução e então se mudaria para outro cargo, deixando o resto dos policiais livres dele, fato que todos enxergam como sendo benéfico. Cabe à pessoa que lidera às execuções na cadeira elétrica a colocar uma esponja cheia de água sobre a cabeça do condenado (em um lugar onde o cabelo foi previamente raspado) para que a eletrecidade seja conduzida mais rapidamente pelo corpo do preso e assim, ele morra mais rapidamente e sem tanto sofrimento. No entanto, seu ódio pelo antigo dono do ratinho faz com ele coloque a esponja seca na cabeça de Delacroix e autorize a execução.

A cena é grotesca: os gritos, a duração dos choques e o cheiro que a atitude de Percy causam chocam policiais e sobretudo as pessoas que vieram assistir à execução. Enquanto isso, John Coffey fica com Mr. Jingles nas mãos, aparentemente sentindo uma parcela da dor de Delacroix, inclusive fazendo com que o ratinho escapulisse das suas mãos e fugisse da prisão. As lâmpadas ao longo do corredor da prisão estouram na medida em que Coffey se esforça para minimizar o sofrimento do antigo colega de prisão.

Dois importantes fatos se seguem então: convencidos dos poderes sobrenaturais que Coffey possui, os guardas, liderados por Paul Edgecomb, traçam um plano para levá-lo até a esposa do chefe deles (James Cromwell), que tem um tumor no cérebro e que está provocando a sua morte. No meio do plano, eles acabam também punindo Percy pela execução de Delacroix, deixando-o amordaçado e preso numa camisa de força dentro da solitária. No entanto, antes que consigam sair com John Coffey pelo
corredor, ele é agarrado por Wild Bill e algo estranho se dá entre eles - algo que deixa Coffey profundamente perturbado mas que ele não confidencia a ninguém.

A cura do câncer funciona perfeitamente - e as demonstrações que cercam a todos enquanto o processo ocorre são fortes demais para serem ignoradas, como por exemplo a casa toda tremendo. Dessa vez, porém, Coffey não retira de dentro de si o grande mal que absorveu, o que preocupava gravemente os policiais. Mas também, eles não julgam Coffey por isso - se ele prefere morrer de câncer a morrer na cadeira elétrica, ninguém o culpa por isso.

Mais tarde John Coffey acaba conseguindo punir os dois "homens maus" que existiam por perto segundo ele (Wild Bill e Percy Wetmore), cada um recebendo um castigo diferente. Conforme a execução de Coffey se aproxima, os policiais tentam fazer de tudo para ajudá-lo, ainda mais por saberem que ele é, no final das contas, inocente - mas o gigante se recusa a continuar vivendo em um mundo onde tanta desgraça e dor existem. Com uma refeição diferenciada e tendo o desejo de assistir a um filme atendido, ele é levado para a sua execução, onde os guardas mal conseguem conter a emoção.

A execução dele se dá sem o capuz que os presos normalmente vestiam - ele continua tendo medo do escuro. Os pais das garotinhas assassinadas aparecem para o acontecimento assim como um bom número de pessoas, todas condenando Coffey, um homem bom e que é definitivamente um milagre enviado por Deus para a Terra. Paul não sabe como Deus irá perdoá-lo por ter matado um dos seus milagres, e ele se desliga do corredor da morte pouco depois.

O filme retorna ao presente, com o já velhinho Edgecomb finalizando sua história, que não convence a amiga que a ouviu pacientemente. Mas ainda existem provas da veracidade dos fatos que deixam a senhora perplexa - bem como todos os espectadores. O final, com linhas poéticas carregadas de emoção, levam qualquer um às lágrimas e indagações profundas a respeito do mundo e da sua cruel realidade.

O filme é longo, com praticamente três horas - mas não se sente o tempo passar. O filme é uma verdadeira obra de arte do gênero dramático - como não chegar às lágrimas assistindo a esta história? Como não torcer e não se emocionar com a simplicidade de Coffey, odiado por algo que não cometeu?

Tom Hanks está fantástico na pele de Paul Edgecomb, conduzindo a história lado a lado com Michael Clarke Duncan. Sua atuação como John Coffey é espetacular, tão intensa e tão cheia de emoção que muitas vezes eu me esquecia de que aquilo era um filme. Não é à toa que seu papel neste filme lhe rendeu uma indicação ao Oscar por melhor ator coadjuvante - troféu que ele, infelizmente, não levou para casa.

A adaptação da obra também é fiel, embora conte com algumas mudanças. Ela foi feita integralmente pelo diretor (que também recebeu uma indicação ao Oscar pela adaptação), que com habilidade extraiu o máximo dos atores em cena, guiando esse filme memorável. As pequenas atuações, de personagens que não concentram o foco da trama - seja da esposa de Paul, seja do seu chefe, seja dos outros guardas que não têm tanto destaque - dão uma incrível noção de realidade para o filme, apesar do seu forte caráter de mistério e de ser sobrenatural.

Não tenho motivos para acreditar que a adaptação cinematográfica fique devendo em qualquer aspecto ao texto original que lhe inspirou. Stephen King deve ter ficado muito orgulhoso de ver suas palavras adquirirem três dimensões tão sólidas na frente dos olhos de todos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Razão e Sensibilidade (1995)



Nome: Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility).
Diretor: Ang Lee.
Gênero: Drama/romance/comédia.
Elenco: Emma Thompson, Alan Rickman, Kate Winslet, Hugh Grant e outros.
Nota: 4 estrelas.
Página no IMDb

Adaptação do livro de mesmo nome da escritora britânica Jane Austen, críticos da sua obra dizem que Razão e Sensibilidade é o seu livro mais fraco, mas a fonte de um filme maravilhoso. A transformação para o cinema foi feita pela própria Emma Thompson, atriz que também participou do filme.

O filme começa com a morte de Mr. Dashwood, que deixa a sua segunda esposa com três filhas de diferentes idades sozinhas. Ele implora no seu leito de morte para que seu filho (do primeiro casamento) não deixe as garotas abandonadas - mas a sua nora é gananciosa e no final, a soma que fica de fato para as irmãs é ínfima.

Sabendo que perderão a casa onde vivem atualmente para o filho homem de seu pai no primeiro casamento, nenhuma das três irmãs Dashwood está feliz com a situação, mas demonstram seu descontentamento de maneiras diferentes: Elinor (Emma Thompson) é prática, reprime suas emoções e é extremamente racional; Marianne (Kate Winslet) é mais nova e emotiva, amante da poesia e de sentimentos fortes e intensos. Por fim, Margaret (Emilie François) ainda é muito nova para se envolver em relacionamentos, mas tem criatividade e inteligência de sobra.

John Dashwood (James Fleet) é o filho de Mr. Dashwood que herdará a casa, e ele chega à mesma junto com sua esposa - uma mulher extremamente arrogante e desagradável com todos, que não faz questão alguma de esconder que quer as três irmãs e a senhora Dashwood o mais rápido possível fora dali.

O cunhado de John Dashwood chega à mansão para passar alguns dias com a irmã, e quando todas já se preparam para mais um homem intragável, a família Dashwood se supreende com Edward Ferrars (Hugh Grant), um galante e educado homem que estima muito as três irmãs e convive amigavelmente com todas. No entanto, é com Elinor que ele desenvolve uma ligação mais profunda, e mesmo a mais racional das irmãs não consegue negar que sente algo por Edward quando elas recebem a notícia de que um primo distante tinha um chalé vazio no qual elas poderiam morar confortavelmente.

A partida é triste, mas Edward promete visitá-las na nova casa em breve. Assim que chegam ao novo chalé com apenas dois dos antigos criados, elas conhecem o dono daquelas terras: o distante primo dos Dashwood, Sir John Middleton (Robert Hardy) que é viúvo e mora com sua mãe, a fofoqueira e animada Mrs. Jennings (Elizabeth Spriggs). Eles insistem em fazer as refeições junto às irmãs e a senhora Dashwood, sob a desculpa de que não há muito o que fazer por lá - alertando Elinor, inclusive, de que seu amor misterioso será descoberto um dia, porque ninguém guarda segredos ali.

Durante uma tarde na casa de Sir John, todos se retiram para a sala de música para ouvir Marianne tocar - excelente pianista, a garota adora cantar também e é durante essa pequena apresentação que o Coronel Christopher Brandon (Alan Rickman) conhece a sensível Marianne e se apaixona por ela. O Coronel e Sir John são amigos de longa data, de quando lutaram juntos na guerra na Índia.

O interesse do Coronel em Marianne é o que Mrs. Jennings precisava para animar os arredores, e começa a pensar em como casá-los apesar da idade do Coronel - ela se orgulha da incrível quantidade de casamentos perfeitos que já arrumou, incluindo sua filha. Mas a própria Marianne não liga muito para isso e despreza o Coronel, ficando muito mais encantada com outro homem - John Willoughby (Greg Wise), um nobre que a encontra na chuva, justamente quando ela havia torcido seu tornozelo e estava em apuros.

Os dias prosseguem calmamente, sendo que Edward nunca as visitou ou escreveu - salvo por uma vez, para enviar um presente à Margaret. Willoughby e Marianne parecem cada vez mais apaixonados, com interesses em comum e passando todo o tempo juntos, coisa que evidentemente magoa o bondoso Coronel. Mesmo assim, ele convida a todos para um piquenique nas suas terras, quando a chegada de uma carta de conteúdo desconhecido faz com ele parta subitamente e cancele o passeio. Suspeita-se que seja relacionada ao seu passado nada feliz.

Uma manhã Willoughby pede a Marianne uma conversa em particular, e enquanto todos esperavam que uma proposta forma de casamento viria dele, é a sua partida imediata para a capital que ele declara, sem explicar direito seus motivos. Marianne cai em depressão, uma que parece tão funda a ponto de ninguém conseguir ajudá-la. Apenas a sugestão de uma viagem para Londres com Mrs. Jennings é que anima novamente a garota, mas traz desespero para Elinor ao mesmo tempo - ela conhece Lucy Steele (Imogen Stubbs) uma noite, que confessa estar noiva de Edward há anos, em segredo.

A estadia em Londres é confusa; Marianne manda várias mensagens para Willoughby, mas nenhuma é retornada. Ela o reencontra, finalmente, numa festa - mas com outra mulher. Marianne não passa bem e sai cedo do baile, no dia seguinte recebendo uma carta, onde Willoughby apenas diz que está compromissado com outra mulher, e que o casamento com ela não deverá tardar.

Elinor decide levar Marianne de volta para casa e pede ajuda para o Coronel para poder terminar o trajeto de Londres até o chalé onde residiam. O Coronel concorda imediatamente - e conta uma história do seu passado, que explica muito do seu comportamento e personalidade.

Porém, antes da partida das irmãs para o campo, Elinor recebe Lucy na casa de Mrs. Jennings na cidade e Edward aparece para visitá-la, encontrando ambas. No entanto, eles mal conversam e há uma atmosfera estranha entre todos.

Pouco tempo depois, a cidade inteira descobre sobre o noivado secreto de Lucy e Edward - o último sendo forçado a desfazer o compromisso ou ser deserdado. Leal à Lucy, ele se recusa a seguir as ordens da família e termina sem dinheiro algum. Marianne, nesse momento, começa a entender melhor algumas das ações de Elinor também.

O Coronel, ouvindo sobre a situação de Edward, propõe que ele vá morar em uma parte das suas terras com Lucy - já que ele conhece bem as dores de ser separado de alguém que se ama há muito tempo. É na casa da filha de Mrs. Jennings e de seu marido que eles param antes de chegar ao chalé, e é lá também que Marianne decide dar outro passeio que também acaba em chuva. Dessa vez, quem a resgata é o Coronel, que também busca a mãe das irmãs para ver Marianne quando esta adoece gravemente.

Ela se recupera e quando todas já estão de volta ao chalé, o Coronel também passa uma boa parte do seu tempo por lá, ajudando na recuperação de Marianne. Ele também a presenteia com um piano, e é enquanto ela já treinava a música que ele enviou junto com o instrumento que uma visita inesperada chega, com notícias ainda mais arrebatadoras - e um final feliz para todos se segue.

O filme é magnífico. Ang Lee conseguiu capturar a essência do livro, que realmente passeia pelo drama, pelo romance e também pela comédia. A grande sensibilidade desse diretor para focar os sentimentos humanos e tirar atuações esplendorosas dos atores iria se tornar muito mais famosa com o seu trabalho em Brokeback Mountain, mas já pode ser definitivamente notada aqui.

Os quatro atores principais estão formidáveis, mas o elenco de apoio não faz por menos - em especial Margaret. A personagem não tem tanto espaço assim no livro, mas acrescenta todo um charme e graça à película que é indiscutível. Os cenários e os detalhes de época também são de encher os olhos.

Existe uma cena em particular que costuma encantar todos os fãs de poesia e em especial, da voz de Alan Rickman: o momento em que ele lê algumas linhas para Marianne é altamente celebrado por todas as suas fãs, e é de fato uma cena tocante que pode ser inclusive conferido em sites como o YouTube.

É uma linda produção que merece todas as críticas positivas que ganhou até hoje, sem exceção. Um lindo contraponto entre razão e sensibilidade que é tão comum dentro de todos nós.