domingo, 21 de outubro de 2007

À Espera de Um Milagre (1999)



Nome: À Espera de Um Milagre (The Green Mile).
Diretor: Frank Darabont.
Gênero: Drama/Mistério/Fantasia.
Elenco: Tom Hanks, Michael Clarke Duncan, David Morse, Doug Hutchison e outros.
Nota: 5 estrelas.
Página no IMDb

Freqüentemente o cinema busca sua inspiração em outra forma de arte: a literatura. Desta vez, o autor escolhido foi Stephen King, um dos mestres do terror, subrenatural e suspense. E a adaptação cinematográfica faz jus à sua renomada obra.

O filme se passa como um longo flashback: Paul Edgecomb (Tom Hanks) conta a uma amiga sobre o verão do ano de 1935, quando era policial e trabalhava no corredor da morte de uma prisão no estado americano da Louisiana. O nome original do filme vem justamente do fato de que costumava-se dizer que os prisioneiros ali mantidos caminhavam sua última milha sobre um piso de cor verde da sua cela até a grande "atração" do local - a cadeira elétrica.

Um dia, um novo prisioneiro chega: seu nome é John Coffey (Michael Clarke Duncan), um negro de altura impressionante mas que se revela um gigante calmo: ele conversa delicadamente, tem medo do escuro e chora várias vezes - algo que parece terrivelmente ilógico dada a sua condenação pelo estupro e assassinato de duas garotinhas brancas.

A convivência entre os prisioneiros e os guardas é relativamente amistosa, com o respeito imperando ali. É costume que a execução de cada um deles seja treinada antes de ocorrer efetivamente, para impedir qualquer erro que prolongue o sofrimento dos condenados. A rotina é normalmente calma até o dia em que um pequeno rato aparece em frente a mesa dos policiais, que pede por comida e depois se esconde na solitária (utilizada como depósito), onde ninguém consegue encontrá-lo. O mesmo rato torna-se alvo da obsessão de Percy Wetmore (Doug Hutchison), um guarda que possui ligações poderosas mas adora estar ali porque pode intimidar, provocar e causar todo o tipo de sofrimento aos presos - um verdadeiro sádico, desprezado pelos seus colegas.

O mesmo ratinho volta a aparecer mais tarde, tendo sido "domado" por Eduard Delacroix (Michael Jeter), que o nomeia Mr. Jingles. O animalzinho passa a morar na mesma cela de Delacroix, e obedece todos os comandos do preso - um fato surpreendente para todos. Chega também à prisão um sujeito extremamente estranho: William Wharton (Sam Rockwell), que engana a todos como um falso louco e quase estrangula um dos guardas na sua chegada.

É com muito esforço que Wharton (ou "Wild Bill", como é conhecido) é controlado, e quando o guarda atacado é levado embora para ver um médico, Edgecomb se deixa cair no chão da prisão: ele sofre de uma estranha infecção urinária que não vai embora e que nos últimos dias vinha enlouquecendo-o de dor.

No chão e obviamente sofrendo, John Coffey começa a chamar pelo policial e pede para vê-lo - e apesar de dizer que aquela não é uma boa hora, Edgecomb atende o pedido no final - somente para ser agarrado pelo gigante e então ter seu problema curado.

Coffey consegue tocar a parte afetada e então transmitir para si mesmo a doença, depois então abrindo a boca e expelindo do seu próprio organismo tudo aquilo que tinha dentro do seu corpo. Depois desse processo, ele sempre sente um cansaço extremo e dorme, sem querer falar ou comentar sobre nada. Edgecomb comenta com Brutus Howell (David Morse) o milagre que ele acredita ter se operado, mas nenhuma outra prova a respeito dos poderes de John Coffey aparece.

A rotina na prisão segue normalmente, apesar das constantes interferências de Wild Bill - ele não gosta de nenhum dos outros presos e odeia principalmente os policiais, tendo feito todas as malcriações e se comportado do pior jeito possível com todos ali dentro. Ele apronta até mesmo com Percy Wetmore, que fica muito assustado com o fato, inclusive urinando nas próprias calças depois do nervoso e medo que experimentou nas mãos de Wild Bill - e em seguida ameaça o resto dos policiais de demissão, porque se alguma coisa a respeito daquele incidente se espalhasse, todos eles perderiam seus empregos, já que ele possuía conexões importantes.

É ele também que mata Mr. Jingles um dia, feliz por finalmente ter eliminado o rato que tanto lhe incomodava em proporções maiores do que o normal. Desesperado, a dor de Delacroix ao perder o seu animal de estimação é comovente - e os policiais ficam assustados com a crueldade e aparente insanidade de Percy também. É nesse momento que John Coffey pede para que lhe tragam o ratinho, dizendo que talvez ainda haja tempo para ele.

Sem entender nada, os policiais entregam o ratinho - e vêem Coffey trazê-lo de volta a vida, utilizando os mesmos poderes e o mesmo processo anteriormente empregado na infecção de Paul Edgecomb. Dessa vez, há testemunhas, sobretudo Delacroix - que não consegue expressar sua gratidão em palavras ao ver seu caro Mr. Jingles de volta. Percy, ao saber do ocorrido, recusa-se a acreditar em qualquer coisa como um milagre e se sente pessoalmente ofendido.

A vingança do guarda se dá da pior maneira: durante a execução de Delacroix. Ele havia pedido para o chefe da seção (Paul Edgecomb) para comandar uma única execução e então se mudaria para outro cargo, deixando o resto dos policiais livres dele, fato que todos enxergam como sendo benéfico. Cabe à pessoa que lidera às execuções na cadeira elétrica a colocar uma esponja cheia de água sobre a cabeça do condenado (em um lugar onde o cabelo foi previamente raspado) para que a eletrecidade seja conduzida mais rapidamente pelo corpo do preso e assim, ele morra mais rapidamente e sem tanto sofrimento. No entanto, seu ódio pelo antigo dono do ratinho faz com ele coloque a esponja seca na cabeça de Delacroix e autorize a execução.

A cena é grotesca: os gritos, a duração dos choques e o cheiro que a atitude de Percy causam chocam policiais e sobretudo as pessoas que vieram assistir à execução. Enquanto isso, John Coffey fica com Mr. Jingles nas mãos, aparentemente sentindo uma parcela da dor de Delacroix, inclusive fazendo com que o ratinho escapulisse das suas mãos e fugisse da prisão. As lâmpadas ao longo do corredor da prisão estouram na medida em que Coffey se esforça para minimizar o sofrimento do antigo colega de prisão.

Dois importantes fatos se seguem então: convencidos dos poderes sobrenaturais que Coffey possui, os guardas, liderados por Paul Edgecomb, traçam um plano para levá-lo até a esposa do chefe deles (James Cromwell), que tem um tumor no cérebro e que está provocando a sua morte. No meio do plano, eles acabam também punindo Percy pela execução de Delacroix, deixando-o amordaçado e preso numa camisa de força dentro da solitária. No entanto, antes que consigam sair com John Coffey pelo
corredor, ele é agarrado por Wild Bill e algo estranho se dá entre eles - algo que deixa Coffey profundamente perturbado mas que ele não confidencia a ninguém.

A cura do câncer funciona perfeitamente - e as demonstrações que cercam a todos enquanto o processo ocorre são fortes demais para serem ignoradas, como por exemplo a casa toda tremendo. Dessa vez, porém, Coffey não retira de dentro de si o grande mal que absorveu, o que preocupava gravemente os policiais. Mas também, eles não julgam Coffey por isso - se ele prefere morrer de câncer a morrer na cadeira elétrica, ninguém o culpa por isso.

Mais tarde John Coffey acaba conseguindo punir os dois "homens maus" que existiam por perto segundo ele (Wild Bill e Percy Wetmore), cada um recebendo um castigo diferente. Conforme a execução de Coffey se aproxima, os policiais tentam fazer de tudo para ajudá-lo, ainda mais por saberem que ele é, no final das contas, inocente - mas o gigante se recusa a continuar vivendo em um mundo onde tanta desgraça e dor existem. Com uma refeição diferenciada e tendo o desejo de assistir a um filme atendido, ele é levado para a sua execução, onde os guardas mal conseguem conter a emoção.

A execução dele se dá sem o capuz que os presos normalmente vestiam - ele continua tendo medo do escuro. Os pais das garotinhas assassinadas aparecem para o acontecimento assim como um bom número de pessoas, todas condenando Coffey, um homem bom e que é definitivamente um milagre enviado por Deus para a Terra. Paul não sabe como Deus irá perdoá-lo por ter matado um dos seus milagres, e ele se desliga do corredor da morte pouco depois.

O filme retorna ao presente, com o já velhinho Edgecomb finalizando sua história, que não convence a amiga que a ouviu pacientemente. Mas ainda existem provas da veracidade dos fatos que deixam a senhora perplexa - bem como todos os espectadores. O final, com linhas poéticas carregadas de emoção, levam qualquer um às lágrimas e indagações profundas a respeito do mundo e da sua cruel realidade.

O filme é longo, com praticamente três horas - mas não se sente o tempo passar. O filme é uma verdadeira obra de arte do gênero dramático - como não chegar às lágrimas assistindo a esta história? Como não torcer e não se emocionar com a simplicidade de Coffey, odiado por algo que não cometeu?

Tom Hanks está fantástico na pele de Paul Edgecomb, conduzindo a história lado a lado com Michael Clarke Duncan. Sua atuação como John Coffey é espetacular, tão intensa e tão cheia de emoção que muitas vezes eu me esquecia de que aquilo era um filme. Não é à toa que seu papel neste filme lhe rendeu uma indicação ao Oscar por melhor ator coadjuvante - troféu que ele, infelizmente, não levou para casa.

A adaptação da obra também é fiel, embora conte com algumas mudanças. Ela foi feita integralmente pelo diretor (que também recebeu uma indicação ao Oscar pela adaptação), que com habilidade extraiu o máximo dos atores em cena, guiando esse filme memorável. As pequenas atuações, de personagens que não concentram o foco da trama - seja da esposa de Paul, seja do seu chefe, seja dos outros guardas que não têm tanto destaque - dão uma incrível noção de realidade para o filme, apesar do seu forte caráter de mistério e de ser sobrenatural.

Não tenho motivos para acreditar que a adaptação cinematográfica fique devendo em qualquer aspecto ao texto original que lhe inspirou. Stephen King deve ter ficado muito orgulhoso de ver suas palavras adquirirem três dimensões tão sólidas na frente dos olhos de todos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Razão e Sensibilidade (1995)



Nome: Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility).
Diretor: Ang Lee.
Gênero: Drama/romance/comédia.
Elenco: Emma Thompson, Alan Rickman, Kate Winslet, Hugh Grant e outros.
Nota: 4 estrelas.
Página no IMDb

Adaptação do livro de mesmo nome da escritora britânica Jane Austen, críticos da sua obra dizem que Razão e Sensibilidade é o seu livro mais fraco, mas a fonte de um filme maravilhoso. A transformação para o cinema foi feita pela própria Emma Thompson, atriz que também participou do filme.

O filme começa com a morte de Mr. Dashwood, que deixa a sua segunda esposa com três filhas de diferentes idades sozinhas. Ele implora no seu leito de morte para que seu filho (do primeiro casamento) não deixe as garotas abandonadas - mas a sua nora é gananciosa e no final, a soma que fica de fato para as irmãs é ínfima.

Sabendo que perderão a casa onde vivem atualmente para o filho homem de seu pai no primeiro casamento, nenhuma das três irmãs Dashwood está feliz com a situação, mas demonstram seu descontentamento de maneiras diferentes: Elinor (Emma Thompson) é prática, reprime suas emoções e é extremamente racional; Marianne (Kate Winslet) é mais nova e emotiva, amante da poesia e de sentimentos fortes e intensos. Por fim, Margaret (Emilie François) ainda é muito nova para se envolver em relacionamentos, mas tem criatividade e inteligência de sobra.

John Dashwood (James Fleet) é o filho de Mr. Dashwood que herdará a casa, e ele chega à mesma junto com sua esposa - uma mulher extremamente arrogante e desagradável com todos, que não faz questão alguma de esconder que quer as três irmãs e a senhora Dashwood o mais rápido possível fora dali.

O cunhado de John Dashwood chega à mansão para passar alguns dias com a irmã, e quando todas já se preparam para mais um homem intragável, a família Dashwood se supreende com Edward Ferrars (Hugh Grant), um galante e educado homem que estima muito as três irmãs e convive amigavelmente com todas. No entanto, é com Elinor que ele desenvolve uma ligação mais profunda, e mesmo a mais racional das irmãs não consegue negar que sente algo por Edward quando elas recebem a notícia de que um primo distante tinha um chalé vazio no qual elas poderiam morar confortavelmente.

A partida é triste, mas Edward promete visitá-las na nova casa em breve. Assim que chegam ao novo chalé com apenas dois dos antigos criados, elas conhecem o dono daquelas terras: o distante primo dos Dashwood, Sir John Middleton (Robert Hardy) que é viúvo e mora com sua mãe, a fofoqueira e animada Mrs. Jennings (Elizabeth Spriggs). Eles insistem em fazer as refeições junto às irmãs e a senhora Dashwood, sob a desculpa de que não há muito o que fazer por lá - alertando Elinor, inclusive, de que seu amor misterioso será descoberto um dia, porque ninguém guarda segredos ali.

Durante uma tarde na casa de Sir John, todos se retiram para a sala de música para ouvir Marianne tocar - excelente pianista, a garota adora cantar também e é durante essa pequena apresentação que o Coronel Christopher Brandon (Alan Rickman) conhece a sensível Marianne e se apaixona por ela. O Coronel e Sir John são amigos de longa data, de quando lutaram juntos na guerra na Índia.

O interesse do Coronel em Marianne é o que Mrs. Jennings precisava para animar os arredores, e começa a pensar em como casá-los apesar da idade do Coronel - ela se orgulha da incrível quantidade de casamentos perfeitos que já arrumou, incluindo sua filha. Mas a própria Marianne não liga muito para isso e despreza o Coronel, ficando muito mais encantada com outro homem - John Willoughby (Greg Wise), um nobre que a encontra na chuva, justamente quando ela havia torcido seu tornozelo e estava em apuros.

Os dias prosseguem calmamente, sendo que Edward nunca as visitou ou escreveu - salvo por uma vez, para enviar um presente à Margaret. Willoughby e Marianne parecem cada vez mais apaixonados, com interesses em comum e passando todo o tempo juntos, coisa que evidentemente magoa o bondoso Coronel. Mesmo assim, ele convida a todos para um piquenique nas suas terras, quando a chegada de uma carta de conteúdo desconhecido faz com ele parta subitamente e cancele o passeio. Suspeita-se que seja relacionada ao seu passado nada feliz.

Uma manhã Willoughby pede a Marianne uma conversa em particular, e enquanto todos esperavam que uma proposta forma de casamento viria dele, é a sua partida imediata para a capital que ele declara, sem explicar direito seus motivos. Marianne cai em depressão, uma que parece tão funda a ponto de ninguém conseguir ajudá-la. Apenas a sugestão de uma viagem para Londres com Mrs. Jennings é que anima novamente a garota, mas traz desespero para Elinor ao mesmo tempo - ela conhece Lucy Steele (Imogen Stubbs) uma noite, que confessa estar noiva de Edward há anos, em segredo.

A estadia em Londres é confusa; Marianne manda várias mensagens para Willoughby, mas nenhuma é retornada. Ela o reencontra, finalmente, numa festa - mas com outra mulher. Marianne não passa bem e sai cedo do baile, no dia seguinte recebendo uma carta, onde Willoughby apenas diz que está compromissado com outra mulher, e que o casamento com ela não deverá tardar.

Elinor decide levar Marianne de volta para casa e pede ajuda para o Coronel para poder terminar o trajeto de Londres até o chalé onde residiam. O Coronel concorda imediatamente - e conta uma história do seu passado, que explica muito do seu comportamento e personalidade.

Porém, antes da partida das irmãs para o campo, Elinor recebe Lucy na casa de Mrs. Jennings na cidade e Edward aparece para visitá-la, encontrando ambas. No entanto, eles mal conversam e há uma atmosfera estranha entre todos.

Pouco tempo depois, a cidade inteira descobre sobre o noivado secreto de Lucy e Edward - o último sendo forçado a desfazer o compromisso ou ser deserdado. Leal à Lucy, ele se recusa a seguir as ordens da família e termina sem dinheiro algum. Marianne, nesse momento, começa a entender melhor algumas das ações de Elinor também.

O Coronel, ouvindo sobre a situação de Edward, propõe que ele vá morar em uma parte das suas terras com Lucy - já que ele conhece bem as dores de ser separado de alguém que se ama há muito tempo. É na casa da filha de Mrs. Jennings e de seu marido que eles param antes de chegar ao chalé, e é lá também que Marianne decide dar outro passeio que também acaba em chuva. Dessa vez, quem a resgata é o Coronel, que também busca a mãe das irmãs para ver Marianne quando esta adoece gravemente.

Ela se recupera e quando todas já estão de volta ao chalé, o Coronel também passa uma boa parte do seu tempo por lá, ajudando na recuperação de Marianne. Ele também a presenteia com um piano, e é enquanto ela já treinava a música que ele enviou junto com o instrumento que uma visita inesperada chega, com notícias ainda mais arrebatadoras - e um final feliz para todos se segue.

O filme é magnífico. Ang Lee conseguiu capturar a essência do livro, que realmente passeia pelo drama, pelo romance e também pela comédia. A grande sensibilidade desse diretor para focar os sentimentos humanos e tirar atuações esplendorosas dos atores iria se tornar muito mais famosa com o seu trabalho em Brokeback Mountain, mas já pode ser definitivamente notada aqui.

Os quatro atores principais estão formidáveis, mas o elenco de apoio não faz por menos - em especial Margaret. A personagem não tem tanto espaço assim no livro, mas acrescenta todo um charme e graça à película que é indiscutível. Os cenários e os detalhes de época também são de encher os olhos.

Existe uma cena em particular que costuma encantar todos os fãs de poesia e em especial, da voz de Alan Rickman: o momento em que ele lê algumas linhas para Marianne é altamente celebrado por todas as suas fãs, e é de fato uma cena tocante que pode ser inclusive conferido em sites como o YouTube.

É uma linda produção que merece todas as críticas positivas que ganhou até hoje, sem exceção. Um lindo contraponto entre razão e sensibilidade que é tão comum dentro de todos nós.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Patriota (2000)



Nome: O Patriota (The Patriot).
Diretor: Roland Emmerich.
Gênero: Ação/drama/guerra.
Elenco: Mel Gibson, Jason Isaacs, Heath Ledger, Joely Richardson e outros.
Nota: 3 estrelas.
Página no IMDb

O Patriota é o tipo de filme que todo mundo assistiu, mesmo que não por inteiro. Pode ter sido na televisão aberta, em uma loja de eletrônicos ou ainda na escola como complemento em História quando se estudou a Independência Americana - meu caso, por sinal.

Estamos no final do século XVIII, no estado da Carolina do Sul. Benjamin Martin (Mel Gibson) é o pai de sete crianças e vive em uma grande fazenda, longe da cidade. O correio é o único contato que eles possuem com a vida na cidade, e logo fica claro que a guerra pela independência das colônias está chegando ali também.

Gabriel (Heath Ledger), o filho mais velho de Benjamin, está ansioso para lutar como soldado, mas seu pai sabe dos horrores que um confronto como esse traz, ele mesmo sendo um antigo soldado aclamado. No entanto, isso não impede que ele se aliste na primeira visita à cidade que a família faz.

No entanto, não é porque Benjamin escolheu ignorar a guerra que ela decidirá fazer o mesmo. Dois anos depois da partida de Gabriel, ele retorna ferido até a sua casa, transportando documentos de guerra. Naquela mesma noite, a guerra chega até a fazenda de Benjamin e todos podem ver os corpos de soldados americanos e ingleses espalhados pelo chão na manhã seguinte, alguns ainda vivos.

Eles decidem recolher e tratar os feridos, sem distinção de nacionalidade. Quando os empregados da casa e a família de Benjamin estão ocupados com os combatentes, um oficial inglês chega ali e agradece pela ajuda, mesmo sendo do lado inimigo. No entanto, o clima de cordialidade é quebrado com a chegada de um outro militar, Coronel Tavington (Jason Isaacs), um combatente inteligente, arrogante e sobretudo cruel.

Com ordens rápidas e sem qualquer remorso aparente, o coronel manda seus soldados matarem todos os americanos que estavam se recuperando, levando os ingleses para serem tratados pelos seus próprios médicos. É nesse momento que ele decide levar Gabriel com ele também para ser posteriormente enforcado - apesar das leis de guerra impedirem isso.

Em uma tentativa vã de salvar o irmão, o segundo filho mais velho de Benjamin é assassinado cruelmente pelo coronel, deixando o patriarca desesperado e em fúria também. Com a casa destruída por ordens de Tavington por ter abrigado ingleses, ele deixa seus três filhos menores nas ruínas da mesma e parte com outros dois para as matas, seguindo o cortejo que levava Gabriel prisoneiro.

Sozinhos, eles conseguem não somente matar todos os soldados ingleses como resgatar Gabriel, que não perde tempo em vestir seu uniforme e partir novamente para a guerra. Benjamin, então, decide deixar seus outros filhos com a irmã de sua falecida esposa, Charlotte (Joely Richardson) e acaba se unindo ao seu filho mais velho, ambos agora lutando pelo futuro Estados Unidos da América.

Para Benjamin, é claro que os colonos nunca irão ganhar dos ingleses em batalhas convencionais - eles estão melhor armados, preparados e em maior número do que os colonos. A saída, portanto, é lutar de uma forma diferente: organizando uma milícia, pai e filho começam a recrutar colonos que possam lutar com eles, aproveitando o conhecimento da geografia local de cada um deles para formar um grupo paramilitar comandado por Benjamin, que começa a ter sucesso e monta seu "quartel general" em um pântano.

A principal tática no começo é o roubo de armas, alimentos, roupas e tudo mais que eles encontrassem - incluindo os cachorros e uma boa quantidade de objetos pessoais de Lorde Cornwallis (Tom Wilkinson), o grande responsável pelo exército britânico na Carolina do Sul. É esse roubo, especialmente o dos cachorros, que faz com que Lorde Cornwallis autorize a utilização de ténicas brutais e mais cruéis por Tavington, na esperança de deter a milícia. Antes fica bem claro que esses métodos nada usuais de Tavington são desprezados por Cornwallis, que responde pelos abusos do seus subordinados - e falar em abusos é diminuir a crueldade de Tavington, que ganhou o curioso apelido de "o açougueiro" da população local.

É com essa autorização que o coronel então persegue a família de Benjamin na casa de Charlotte, mas eles conseguem escapar e são liderados para uma ilha de escravos libertos, onde podem ficar em segurança. Gabriel se casa, Benjamin e Charlotte iniciam um relacionamento e algum período de paz se passa entre eles até o retorno para a guerra ou para as cidades, quando a esposa de Gabriel (Lisa Brenner), juntamente com todos os moradores da sua vila, são queimados vivos dentro da igreja local.

Ao encontrarem a vila destruída, muitos saem em busca de vingança, indo atrás dos ingleses e em especial, do Coronel Tavington. Gabriel, tomado por grande desespero e fúria ainda maior, consegue eventualmente acertar um tiro em Tavington - mas é o inglês que vence a batalha no final, ferindo mortalmente o filho mais velho de Benjamin e deixando este em profundo desespero depois.

Desse momento para a batalha final, muita coisa acontece; membros da milícia escapam da forca com um plano engenhoso de Benjamin, que troca ameaças de morte com Tavington. O grande trunfo dos colonos está no fato de que são uma organização paramilitar, freqüentemente subestimados pelas tropas britânicas - talvez o erro fatal em termos de estratégia da Inglaterra.

A batalha final conta com o esperado confronto pessoal entre Benjamin e Tavington, sendo que o resultado não é difícil de prever. Quando os ingleses batem em retirada da Carolina do Sul, vemos que pouco tempo depois eles são acuados pelo exército dos colonos e pela ajuda francesa que chegou pelo mar depois de meses de espera.

O primeiro alerta que eu considero pertinente a ser feito é sobre a veracidade dos fatos apresentados: enquanto os figurinos e os cenários são magníficos e dão a sensação de que estamos mesmo vendo algo que se passou séculos atrás, o filme não segue uma linha precisa ou verdadeira. Tanto Benjamin Martin quanto William Tavington são ficcionais e incorporam elementos de mais de uma personalidade daquela época. Não espere por grandes reviravoltas de enredo - a trama é previsível.

O meu maior problema com o filme é o modo como ele parece orbitar ao redor de Mel Gibson. Tudo na guerra parece depender única e exclusivamente dele - se ele lutar, os colonos ganham; se ele ficar em casa, não há esperança para ninguém. As características de um bom filme histórico estão lá, mas muito distorcidas pelo drama particular de um homem só, o que é pequeno se comparado ao tamanho da guerra - razão, aliás, que levou Harrison Ford a rejeitar o papel de Benjamin Martin.

Outra coisa é a capacidade do filme em manipular a audiência: tendo em Tavington o principal expoente do exército inglês, tende-se a acreditar que o comportamento dele era o modelo das tropas britânicas, quando ele é claramente uma exceção - uma fantástica e maravilhosa exceção retratada com maestria por Jason Isaacs, disparado o melhor ator em cena. Mas ainda sim, deve-se ter em mente de que é um filme americano, contando o lado dos mesmos.

Em relação a atuação do resto do elenco, eu não acho que ela seja muito digna de nota. Nenhum dos filhos de Benjamin, salvo por Gabriel, faz algo que mereça muito tempo de cena ou que seja memorável. A maioria dos personagens tem apenas duas dimensões - falta profundidade. Eu, pelo menos, não senti nenhum pesar ao ver tanta gente sendo queimada na igreja, porque eles simplesmente não inspiraram simpatia alguma antes.

No mais, o filme é uma boa diversão e é melhor se visto na versão estendida, com algumas cenas que humanizam mais o cruel Coronel Tavington (e nada se sabe sobre o porquê/como ele ficou assim). Encare esta película como um passatempo recheado de ação em cenários épicos - porque são esses os méritos do filme.