sábado, 9 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes (2009)



Nome: Sherlock Holmes (Sherlock Holmes).
Diretor: Guy Ritchie.
Gênero: Ação/Aventura/Mistério/Policial.
Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams, Mark Strong e outros.
Nota: 4 estrelas.
Página no IMDb

"Elementar, meu caro Watson" será um frase que não será ouvida neste filme: aliás, este filme se propõe a atualizar os personagens mais famosos de Sir Arthur Conan Doyle, dando uma atmosfera mais "moderna" à série de livros e ao detetive particular mais conhecido do mundo inteiro sem que eles saiam da Inglaterra vitoriana dos livros originais - além de não seguir nenhum dos contos de forma principal.

A história começa com ação: Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) corre, planeja friamente como lutar e derrubar seus oponentes e, com a ajuda do Doutor John Watson (Jude Law), coloca fim a um ritual de sacrifício humano que estava sendo conduzido por Lorde Blackwood (Mark Strong), resultando na prisão deste e no salvamento da moça.

Blackwood é condenado à forca pelo crime e tem sua execução marcada para depois de três meses, tempo em que Holmes fica ocioso e completamente entediado. Enquanto isso, Watson decide que vai se mudar da casa do detetive depois de acertar o casamento com a jovem Mary Morstan (Kelly Reilly), idéia que perturba Holmes - já que o que não faltam são tentativas do detetive de impedir o amigo de levar o casamento adiante, procurando sabotá-lo de todo modo.

Pouco antes da execução de Blackwood, o próprio Sherlock Holmes é chamado até a prisão, já que a sua presença ali era o último desejo do condenado. Os dois homens conversam e Blackwood avisa que mais três mortes ocorrerão dali em diante e que a sua execução mudará os rumos do mundo. Apesar de tudo, o nobre é enforcado e sua morte é confirmada pelo próprio Watson.

Surge em cena Irene Adler (Rachel McAdams), uma golpista que foi a única que conseguiu enganar o detetive no passado - e ainda por cima, por duas vezes. Ela oferece dinheiro para que ele aceite um caso relativo ao desaparecimento de uma pessoa, mas não revela nada que dê pistas sobre para quem ela estaria trabalhando - o que força Holmes a se disfarçar para tentar obter maiores pistas. Logo depois, a notícia de que Blackwood voltou dos mortos chega até Holmes, e sua ajuda é requisita para tentar impedir que o pânico se alastre pelas ruas com tal acontecimento.

No lugar de Blackwood está o homem que Irene havia pedido para ser encontrado - e, com base em um relógio enterrado junto com o homem, Holmes e Watson chegam ao endereço dele, descobrindo um laboratório estranho porém falhando em descobrir no quê o homem trabalhava ali dentro. Os dois, porém, são surpreendidos com a chegada de capangas enviados ali para detruir qualquer tipo de evidência (já que os dois amigos já haviam descoberto uma ligação entre o morto e Blackwood), mas acabam na cadeia por toda a confusão criada logo depois.

Enquanto Watson tem a sua fiança paga pela noiva, Holmes sai devido a um pagamento feito pelo Templo das Quatro Ordens, uma sociedade secreta que lida com magia e da qual Blackwood era um membro - e um muito poderoso, nascido durante um ritual. Sem poderes para impedi-lo de seguir esse caminho, o chefe da sociedade pede ajuda a Holmes - que aceita prender o homem, mas não porque eles haviam solicitado. Pouco tempo depois, no entanto, dois membros antigos da ordem são assassinados e Blackwood passa a liderá-la, com planos de dominar a Inglaterra e retomar o domínio dos Estados Unidos como colônia. Para piorar as coisas para Holmes, Blackwood pede ao Ministro do Interior, um membro da seita, para manipular a polícia e expedir um mandado de prisão para o detetive.

Os dois amigos começam a seguir pistas deixadas para trás que levam a crer que Blackwood estaria em um matadouro - e os dois estavam certos, chegando a tempo de salvarem Irene de uma armadilha fatal, já que Blackwood parece estar eliminando todos os vestígios de seus planos. A fuga de Watson, Holmes e Irene é frustrada por uma bomba, acionada por outra armadilha e que acaba deixando Watson, entre todos, severamente machucado.

Desse momento em diante, a maior parte do que acontece é essencial para que se desvende o mistério que se segue, sendo impossível contar mais sem estragar o resto do filme. É verdade que a ação, as lutas, as situações humorísticas e vários outros elementos estão presentes, mas Sherlock Holmes é Sherlock Holmes e não se pode esperar nada mais nada menos do que um espetacular desfecho com base em todos os detalhes que a maioria das pessoas não viu enquanto assistia ao filme.

Acho a versão atual do detetive mais famoso do mundo competente: foi exatamente o que eu esperava, sem entregar nada que possa ser classificado como uma "obra-prima", mas sem deixar a desejar também; aparentemente, a melhor coisa que Guy Ritchie fez nos últimos anos foi se divorciar de Madonna, já que seus dois últimos filmes (este e "RocknRolla", de 2008) indicam uma retomada visível da sua carreira, com lançamentos consistentes e que têm devolvido a sua credibilidade como diretor.

Agora, as atuações: embora Robert Downey Jr. não tenha sido a primeira escolha para o papel por ser um pouco "velho demais" (aparentemente, a idéia era retratar Sherlock Holmes mais moço, mais ou menos como no reinício da franquia de "Batman", com Christian Bale no papel principal), fica difícil imaginar este filme de outra maneira: Downey Jr. esteve impecável com seu sotaque inglês (ele é americano), os maneirismos de Holmes, seu ritmo de cena e a sua caracterização como um todo. Jude Law não fica por menos: seu Doutor Watson é alguém no mesmo nível de Holmes, independente e que sabe decifrar quando está sendo manipulado pelo amigo.

Uma grande diferença dos livros para este filme está no relacionamento entre ambos, aliás: mais do que mestre e criado, mente brilhante e ajudante, eles estão em pé de igualdade, mostrando que, sem o outro, nenhum deles chegaria longe. As discussões e tiradas de ambos constituem os melhores momentos do filme e não raro eles se parecem com um casal velho briguento, mas daqueles tão entrosados que fica difícil para uma terceira pessoa entender e ser aceita naquela ligação tão exclusiva.

Essa "falta" de respeito com a caracterização dos personagens principais, a inserção de Irene como uma personagem quase fundamental e a correria e pancadaria que não estariam nos romances originais de Sir Arthur Conan Doyle podem afastar os puristas, mas a atualização, na minha opinião, é mais que bem-vinda. Não há dúvidas de que a franquia irá continuar - vi poucos filmes com ganchos tão óbvios para continuações quanto este, até porque o grande antagonista de Holmes nos livros não teve papel de destaque - ainda. A Londres vitoriana é bem retratada, o figurino inovador se ajusta aos personagens e a trilha sonora é impecável - mas aí, eu sou suspeita para falar porque simplesmente adoro o trabalho do Hans Zimmer, o compositor neste caso.

Um detalhe interessante do filme que merece ser destacado são os efeitos, quase como flashbacks mostrados a platéia, de como as coisas se desenvolveram. Quando Holmes ou Watson tiram conclusões sobre alguma coisa, as cenas originais são mostradas numa rápida sucessão à platéia, mostrando o que de fato aconteceu e possibilitando que todos entendam como os dois chegaram àquelas respostas por meio de suas deduções. Tal mecanismo foi usado de forma semelhante em "O Código da Vinci" (2006), mas não funcionou bem na época - eu acho que, neste caso, só serviu para confundir a platéia, enquanto aqui as ilustrações são bem-vindas.

É um filme, como disse, honesto: não tem pretensões de ser inovador mas não deixa de ser criativo; um filme que, felizmente, não tem nada de elementar.