sábado, 2 de agosto de 2008

O Enigma do Horizonte (1997)



Nome: O Enigma do Horizonte (Event Horizon).
Diretor: Paul W.S. Anderson.
Gênero: Horror/Ficção Científica/Suspense/Mistério.
Elenco: Laurence Fishburne, Sam Neill, Joely Richardson, Jason Isaacs e outros.
Nota: 3 estrelas.
Página no IMDb

Ficção científica e horror parecem dois campos impossíveis de funcionarem lado a lado; a tentativa feita pelo diretor Paul W.S. Anderson, no entanto, é bastante impressionante. Mais do que um filme de ficção científica, trata-se de um horror ambientado no espaço.

Estamos em 2047. A Terra já firmou sua primeira colônia na Lua, Marte é explorado economicamente e, sete anos antes, uma nave espacial chamada Event Horizon foi construída e enviada para pesquisas pelo universo - projetada para ir muito mais além do que suas antecessoras. A expedição, no entanto, transforma-se no maior desastre espacial da história quando a nave desaparece sem deixar sinal, próximo de Netuno.

Voltando ao ano de início da história, somos apresentados ao doutor William Weir (Sam Neill), convidado a bordo da nave Lewis and Clarke que por sua vez é comandada pelo capitão Joe Miller (Laurence Fishburne) e sua tripulação. Todos os integrantes da nave foram retirados das suas férias e forçados em uma missão até Netuno, sem saber direito os motivos ou as ordens que estão por trás de tudo.

É numa breve reunião que o doutor Weir explica à tripulação toda a verdade: as notícias sobre a Event Horizon ter explodido devido a um superaquecimento dos seus motores era mentira; ela, na verdade, havia desaparecido por completo e sem dar qualquer sinal - até o momento. Uma transmissão de áudio foi captada, proveniente da nave perdida. Uma edição desse arquivo de áudio dava a impressão de que uma voz humana pedia por socorro, falando em latim.

A Event Horizon foi contruída não para pesquisas, mas sim como um projeto secreto do governo; a nave foi feita com um motor específico que faria com que fosse possível viajar na velocidade da luz - mas sem quebrar as leis da física. A nave foi equipada com um gerador de buracos negros, que poderia distorcer o espaço-tempo de forma a possibilitar viagens em uma rapidez absurda, criado pelo Dr. Weir.

Após quase sessenta dias de viagem, a tripulação da Lewis and Clarke chega à Netuno, encontrando a Event Horizon flutuando na órbita do planeta. Como as varreduras por sinais vitais parecem estranhas, o capitão decide que a busca por sobreviventes deverá ser feita nos moldes antigos: andando por cada compartimento da nave com um time de busca. Levando consigo outros dois tripulantes, a equipe chega à nave abandonada.

De início, as impressões são sombrias; ninguém aparenta ter sobrevivido. A área médica parece nunca ter sido utilizada e o time de busca encontra pedaços de corpos humanos e tudo mais congelados, cristalizados devido ao problema com o aquecimento interno da nave. Enquanto isso, Justin (Jack Noseworthy) explora a engenharia da Event Horizon, descobrindo uma misteriosa esfera preta com três anéis metálicos girando constantemente ao seu redor: é o mecanismo criador de buracos negros - que surgem sempre quando os anéis se alinham sob o controle do capitão.

O curioso tripulante toca o centro da esfera, que parece feita de algum material líquido - mas, ao tocá-la por uma segunda vez, ele é sugado para dentro da mesma; a tripulação percebe que algo está errado e imediatamente vai resgatá-lo, mas algo dá muito errado na volta - uma estranha explosão combinada com a volta de Justin acaba por danificar severamente a Lewis and Clarke, forçando o resto dos tripulantes à migrarem para a Event Horizon.

Os sistemas básicos voltam à nave, como o gravitacional e o de ventilação, mas há um problema: o ar da nave será suficiente para apenas 20 horas, ficando tóxico para seres humanos depois disso em razão da concentração de gás carbônico. Começa, então, uma corrida contra o tempo para consertar a Lewis and Clarke e ir para casa, já que obviamente não há ninguém que precisa ser resgatado ali.

Coisas estranhas começam a acontecer também; ao seu modo, quase todos os tripulantes vêem pessoas conhecidas ou flashes de cenas dantescas, envolvendo sangue e dor. A primeira a passar por isso é a oficial médica Peters (Kathleen Quinlan), que acredita ter visto seu filho na nave; Justin, internado e sob obversação dela e de D.J. (Jason Isaacs), o outro médico, parece ter entrado em um estado de choque desde a sua experiência com o núcleo da nave; Dr. Weir tem visões da sua esposa e o próprio capitão tem lembranças perturbadoras do seu passado.

Enquanto a Lewis and Clarke segue sendo consertada por dois tripulantes, a Tenente Starck (Joely Richardson) fala de sua teoria sobre os sinais vitais esquisitos da nave para o capitão: o fato da origem dos sinais obtidos não ser identificada só pode dizer que vem da própria nave, como se esta estivesse efetivamente viva e reagindo a cada um dos tripulantes. Há, também, a possibilidade de que ela tenha trazido algo de volta da sua viagem de sete anos pelo buraco negro.

Os ânimos esquentam na Event Horizon; enquanto o Dr. Weir credita todas essas ilusões ao nível de gás carbônico que vem aumentando e a tensão nascida do risco de não se voltar para casa, outros acreditam que se trata de algo muito real para ser apenas imaginação. Nesse meio tempo, Justin acorda do seu estado de choque e tenta se suicidar, murmurando durante todo o tempo sobre "o lugar para onde ele foi", sobre "a escuridão dentro dele" e como ele não deseja voltar para esse lugar. Muito provavelmente Justin esteve onde a nave passou os últimos 7 anos, desaparecida.

O tripulante quase morre - mas tem suas condições estabilizadas por D.J., que tem uma conversa reveladora com o capitão; enquanto este fala que viu coisas que nunca tinha contado para ninguém (o que quer dizer que a Event Horizon provavelmente sabe o que vai na cabeça de cada um, materializando seus segredos e medos), o outro confessa que entendeu errado a mensagem em latim que todos ouviram no início da viagem: tendo sido ele o tradutor do arquivo de áudio, D.J. corrige sua versão inicial para algo que é, na verdade, "salvem-se do inferno".

O conserto da Lewis and Clarke finalmente termina e a tripulação se prepara para voltar, particularmente ansiosa depois de ter assistido a um vídeo recuperado da Event Horizon que mostra os antigos tripulantes sendo brutalmente assassinados por um estranho ser cheio de cicatrizes - o autor da frase em latim. Ao abortarem a missão e receber a ordem de abandonar a nave para voltar para casa, o Dr. Weir fala que ele está em casa, começando a agir de uma forma suspeita.

Um por um, a maioria dos tripulantes começa a alucinar e/ou então sofrer ataques do Dr. Weir, que, após a morte de Peters, arranca os próprios olhos e começa a perseguir os tripulantes da Lewis and Clarke, enquanto inicia uma contagem regressiva para fazer o retorno da nave para onde ela esteve nos últimos anos. O capitão, porém, percebe algo de errado e alerta a tripulação, buscando separar os decks frontais da Event Horizon do resto da mesma como medida de segurança - o próprio doutor havia explicado que a nave possuía esse mecanismo mais cedo.

As seqüências finais lidam com mais aparições, sangue e pesadelos - a maioria sobre o inferno, já que foi essa a dimensão paralela onde a Event Horizon esteve. O final do filme, de uma maneira geral (bem como a sua estrutura), me lembra Sunshine, outro filme que trata de uma expedição espacial - mas com uma missão diferente (e feito em 2007, dez anos após este).

Eu sou facilmente assustada por filmes de terror e admito que não sabia de que estava assistindo um até certo tempo depois; no começo, eu estava convencida de que se tratava mais de um representante do gênero de ficção científica, esse sim um campo que eu adoro. Mas tenho que confessar que, embora não seja nada extraordinário, O Enigma do Horizonte realmente assusta em alguns momentos.

O mistério todo relacionado à Event Horizon funciona bem; durante a primeira hora do filme, as visões da tripulação, a tensão dentro das naves e a contagem regressiva em relação ao ar "respirável" criam um clima de apreensão excelente para esse tipo de filme - a platéia eventualmente se assusta junto com os personagens. Mas nos vinte minutos finais, eu tenho a sensação de que o filme poderia ter sido cortado sem prejuízos - afinal, os diálogos ficam estranhos e as motivações dos personagens mais ainda.

Laurence Fishburne e Sam Neill são os atores com mais destaque em cena; ambos acrescentam algo ao filme com suas atuações, especialmente Laurence; é impossível para mim, no entanto, não ligar o seu papel como o capitão Miller aqui ao seu Morpheus de Matrix, mesmo sabendo que a trilogia foi feita depois; ambos são capitães de naves que agem de uma forma muito semelhante para não serem comparados, sem contar que é esse tipo de personagem (autoritário, em posição de poder e de caráter mais militar) que se transformou na sua marca registrada como ator.

O Dr. Weir de Sam Neill também me impressionou; gostei particularmente da mudança que se opera nele do início para o final do filme, assumindo contornos macabros e bem perturbadores; o mesmo não digo de Joely Richardson, que não me convenceu muito com a sua tenente - a personagem é fraca e sem muito de interessante a acrescentar, ficando um pouco presa ao estereótipo de personagens femininas de séries de ficção científica. Mas está aí outro ponto fraco: ninguém se preocupou muito em fazer bons personagens com boas histórias - eles estão lá simplesmente para serem mortos e exibidos ao público depois, sem criar grandes laços com a platéia a ponto de que ela se identifique com algum deles. O personagem de Richard T. Jones é o responsável pelas poucas partes cômicas e se sai bem nelas.

Jason Isaacs é alguém que eu não posso honestamente criticar com imparcialidade; eu simplesmente acredito que ele está perfeito em todos os seus papéis, mesmo com o seu estranho médico. D.J. é um dos poucos que não é assombrado e parece pouco disposto a acreditar em aparições, sendo um personagem mais consistente - mas sofre do mesmo mal: falta de história pessoal, motivos, justificativas - enfim, tudo aquilo que colabora para que um personagem fictício tenha, de fato, três dimensões.

A fotografia e a trilha sonora são boas e combinam com o tipo de filme; os tons sombrios predominam de uma forma assustadora e todos os clichés do gênero são utilizados (da falta de luz nas naves aos ângulos de câmera que sempre mostram os personagens se assustando de forma que a platéia também se assuste). Na minha opinião, o filme poderia dispensar a maioria das cenas envolvendo carnificina - não sou fã desse tipo de coisa, confesso; mas acho que o suspense psicológico e os sustos e traumas são muito mais assustadores do que gente sendo dissecada viva.

Mesmo não sendo uma grande fã do gênero, dá para ver que o final desanda; deu a impressão de que queriam fazer algo muito mais grandioso, sangrento e macabro do que realmente ficou. Mas ele realmente assusta, faz arrepios descerem a espinha e, finalmente, faz jus à tagline "espaço infinito - terror infinito".